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Vitor Ramil tem biografia escrita pelo sociólogo Marcos Lacerda
O livro reúne um apanhado de interpretações sobre a obra do músico pelotense que conquistou o Brasil com a estética vanguardista
Na tarde da última sexta-feira (16) a Agência de Indústria Criativa e Mobilização Social – Projeto Produção e Políticas Culturais (Agimos) promoveu uma sessão de autógrafos e conversa para o lançamento da biografia de Vitor Ramil. A obra intitulada “Vitor Ramil: O Astronauta Lírico” foi escrita pelo sociólogo paulistano Marcos Lacerda. O resultado do trabalho é um livro com 340 páginas que vão desde as composições de vanguarda dos anos 1980, até a Estética do Frio e produções contemporâneas do pelotense.
O livro é a reunião de um longo processo de pesquisa que uniu o útil ao agradável durante sua passagem por Pelotas. Natural de São Paulo, ele chegou a cidade em 2019 dar início ao seu pós-doutorado em sociologia pela UFPel. A partir disso, sua aproximação com o artista aconteceu em dois momentos.
O primeiro contato foi logo que chegou, quando convidou Vitor para uma conversa. Mais tarde, em 2020, foi quando decidiu aprofundar sua compreensão sobre a obra de Ramil. “Em 2020 eu pensei: estou aqui, vou ficar aqui pelo menos 4 ou 5 anos fazendo o pós-doutorado em Sociologia. Por que não fazer uma pesquisa sobre a obra do Vitor?”, conta Marcos em entrevista à RádioCom.
A biografia permite conhecer as relações do artista com as vanguardas e com o caráter experimental, muito marcantes nos três primeiros discos. Em “Estrela, Estrela”, Marcos ressalta haver algo muito interessante. Apesar de ter sido um disco que Vitor lança com 19 anos, ele reúne composições de seus 14 e 15 anos. “Eu acho que isso é bem inédito na história da canção brasileira. Um artista com canções feitas no período da adolescência e transformado depois em disco”, expressa o sociólogo.
Vitor Ramil: O Astronauta Lírico
Além de suas raízes gaúchas e da temática regional, Ramil é um artista que busca a experimentação formal e a inovação em sua música. Ele dialoga com as vanguardas modernistas, com o concretismo paulista e com a alta literatura europeia. “É um artista de vanguarda. Isso fica muito evidente nos discos todos. Alguns de forma mais pronunciada, outros menos. Mesmo um disco como Ramilonga, tem muito experimento formal. Sim. Muito experimento formal.”, adiciona Lacerda
A fase de maior experimentação de Ramil foi entre os anos 80 e 90, marcada pelos shows com o personagem Barão de Satolep. Nessa época, o músico criou um repertório inovador e pouco conhecido do público atualmente, mesclando elementos da canção popular com a vanguarda. Quase metade do livro é sobre o Vítor da década de 80 que pouca gente conhece, e com repertório de canções que ele não gravou. Muitas canções inéditas que ele apresentava nesses shows, mas que não viraram disco
O livro também apresenta canções e poemas que Ramil havia feito para esses shows que ele próprio havia esquecido, mas redescobertos por Lacerda durante suas pesquisas. “Essa parte, eu diria que é a parte mais estimulante para mim, mas, obviamente, toda a obra dele é estimulante”, complementa o paulistano.
A partir das interpretações críticas e dos diálogos entre Lacerda e Ramil são expostos os deslocamentos da carreira de Vitor. Nos anos 1980 ele vai para Porto Alegre, onde grava o disco “A Paixão de V Segundo Ele Próprio” e, mais tarde, para o Rio de Janeiro. Em 1992 Vitor retorna para Pelotas.
A partir de então começa a reconstruir a carreira, tanto na parte da canção popular quanto no que diz respeito à ficção literária. “Pelotas tem um papel fundamental numa espécie de redirecionamento da carreira dele. A volta tem um significado enorme porque, a partir da volta, ele vai lançar o ‘À Beça’, que é um disco de 95”, finaliza Marcos.
Processo de escrita
A construção da biografia aconteceu em três eixos, conta Marcos. O primeiro deles é o estudo da recepção crítica, que estuda um grande apanhado de tudo o que era falado sobre o artista, começando em 1979 e indo até o ano de 2022.
Para muito além do artista pelotense Vitor Ramil, o sociólogo conta que “a recepção crítica da obra do Victor sempre foi nacional, nunca restrita ao Rio Grande do Sul” desde os primeiros trabalhos. A partir do disco “A Paixão de V Segundo Ele Próprio”, de 1984, a repercussão acontecia por todo o país. “Havia muita gente interessada na obra do Vitor em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Maranhão, em Belém, porque tem um público ótimo em Belém”, ressalta Lacerda.
O segundo eixo foi a análise que o próprio escritor fez da obra, tanto musical quanto ficcional. “À medida que fui conhecendo a obra, fui fazendo estudos de análise crítica de todos os discos. Do ‘Estrela, Estrela’, até o ‘Avenida Angélica’, de 2022. E também análise da parte ficcional. ‘Pequod’, ‘Satolep’, ‘Primavera da Pontuação’, e o ensaio ‘A Estética do Frio’”, adiciona. Por fim, o terceiro elemento do livro compõe-se por conversas diretas entre o escritor e Ramil, sempre muito gentil e receptivo.
A Estética do Frio
A Estética do Frio, proposta por Vitor Ramil, delineia a identidade cultural do Rio Grande do Sul, englobando aspectos como paisagem, história e expressão artística. Essa identidade, no entanto, transcende as fronteiras estaduais. O sociólogo contribui para essa discussão, ao ampliar o conceito e situá-lo em um contexto supranacional.
Para Lacerda, a Estética do Frio representa um espaço cultural compartilhado por Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, diferenciando-se da tradição cultural brasileira mais ampla. Sua interpretação enriquece a análise de Ramil, oferecendo uma perspectiva mais abrangente sobre a identidade regional.
Em pelotas, o livro já está disponível para compra no Sebo Icária (R. Tiradentes, 2609). Também é possível fazer a compra online pelo site da Editora Hedra.
Redação: Ridley Madrid
Imagem: Juliano Lima
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