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Uma escolha nada difícil (por Leonardo Melgarejo)

Uma escolha nada difícil (por Leonardo Melgarejo)

Na ressaca desta manhã, acordei sob o estímulo do Leandro Fortes, que merece meus enfáticos agradecimentos. Ainda de boca seca e mal humorado, abri os olhos escutando coisas que precisava ouvir sobre o culto à sofrência que insiste em viver entre nós.

Leandro especulava que a esquerda envelheceu e que por falta de energia, está contribuindo de forma tola para o crescimento deste fascismo tosco e ignorante que é até debochado ao comemorar a derrota que obteve ontem. Eles festejam o fato de que seu/nosso inominável presidente que mente não foi cancelado já no primeiro turno. E fazem isso sabendo que, sem golpe, e sem abandonarmos a peleia, o resultado final já está definido.

Se não atrapalharmos, Lula é o presidente. Isso salta aos olhos no fato de que nunca a esquerda fez tantos votos no primeiro turno de uma eleição presidencial, como ontem. Faltou de fato só um tiquinho, Mas eles comemoram. Estão felizes porque teremos no senado uma espécie de grupo de marionetes formado por Miro, Mourão e Astronauta, a dar base para os agudos dAquela que Viu Cristo na Goiabeira. Coisa passageira porque um senado federal deste nível é institucionalmente desmoralizante e de difícil ocultação. Mas isso não é relevante para eles.

Como não o é o fato de que suas bases caricatas perderam os senadores golpistas Fernando Collor (AL), Tasso Jereissati (CE), Roberto Rocha (MA), Ferando Bezerra (PE) e Elman Ferrer (PI). Também não é relevante para eles (mas deveria ser para nós) que os deputados Joice Hasselman, Janaína Pascoal, Cel. Telhada, Fernando Holiday, Sérgio Camargo, Douglas Garcia, Nise Yamaguchi, bem como Cristiana Brasil, a filha do presidiário que dirigia da cela as falas de seu laranja, o padre podre, entre tantos outros, voltam, com Eduardo Cunha, para o silêncio dos golpistas desprovidos de imunidade judicial.

Como escreveu Gilberto Maringoni ao Jornal GGN, se neste primeiro turno eles ganharam em 9 estados (AC, DF, GO, MG, MT, PR, RJ, RO e TO), e nós em apenas 6 (AP, CE, MA, PA, PI, RN), restam 12 estados (AL, AM, BA, ES, MS, PA, PE, SC, SE, SP, RO, e RS) em disputa. Portanto, a luta continua e só perderemos murchando as orelhas e enfiando o rabo entre as pernas.

Porque de fato, estamos com uma vantagem que há dois dias não tínhamos. São dois senadores a mais e um presidente virtualmente eleito, que já parte com 6 milhões de votos de vantagem, para atrair adesões de candidatos a governos em disputa, além de sua ampla capacidade de negociação e aceitação internacional. Do outro lado, está aquela figura mundialmente desprezada, que nada mais tem a oferecer, ou ambicionar. Seu horizonte de crescimento inclui os votos minguados do ex-candidato padre, o podre, e do candidato genro, aquele que quer privatizar tudo e todos e talvez quem sabe algum milagre capaz de atrair 70% dos que até ontem se recusavam a apoiá-lo.

Para ele, o primeiro turno foi de fato o segundo. E ele comemora por isso. Conta com intimidações que nos levem a recuos que possam abrir espaços que lhes permitam avançar. Para nós, é o oposto. O primeiro turno foi um degrau necessário que coloca amplo leque de negociações em aberto, ainda que isso possa implicar em restrições nos graus de liberdade do novo governo. Mas assim é a política, e o resultado dependerá do povo na rua.

E para isso Lula conta com a consciência de seus eleitores e com a necessidade de sobrevivência do PDT e do PSDB, sendo que este depende, agora, da visão de futuro da própria Simone Tebet.

Particularmente me vejo entre os milhões de gaúchos que podemos garantir a eleição do Leite, em troca de garantias políticas para eleição de Haddad. E podemos sim, perdoar o Ciro, até porque para ele apenas isso já seria suficiente para ir morrer em paz.

Mas independente de acolhermos o Ciro, aquele sujeito que foi rejeitado até pelos irmãos de sangue, temos os trabalhistas do PDT e a captação de pequena parte dos indecisos, como suficiente para garantir que no aniversario de Lula estaremos a um passo do Brasil que precisamos

Já Bolsonaro, que conta com intermediários duvidosos, precisa de um milagre divino.

Imagem de meme que circulou na internet.

Em outras palavras, avançamos e não temos motivo para lamentações. Mas ainda falta estrada.

Foi de fato uma pena que por 2 mil votos Edegar esteja fora da disputa, e a não eleição do Olívio. Mas afinal, esta é uma luta que continuará por anos e nela o mais importante está no que os resultados de ontem indicam: a direita é maior do que parecia e ainda teremos que conviver com parentes, conhecidos e até alguns amigos ou ex-amigos que, quando confrontados com fatos de realidade, dispararão seus mantras aos gritos de “mito”, “vagabunda”, “negro incompetente”, “paraíba analfabeto”, “fora comunista” ou “vai pra Cuba”. Aliás, esta semana, quando escutei um “não ofenda minha inteligência” e percebi que ali estava o limite máximo de civilidade a que chegam certas pessoas, quando precisam fechar os olhos, os ouvidos e a mente, à números internacionalmente reconhecidos como descritores reais da corrupção, dos ecocidios, do genocídio, da destruição de valores reais, sociais, éticos e morais em andamento neste país.

Precisamos entender bem isso porque é neste nível que a luta continuará. Eles hostilizam a todos e são muitos os que em todas as filas deste pais estão precisando apenas de alguns minutos de nossa atenção e apoio, para se incorporarem à luta contra o mal maior.

E o mal maior segue alimentado por nossa vocação à sofrência (obrigado Leandro) e pela apatia envelhecida a que nos agarramos enquanto os fascistas comemoram até erro das pesquisas. A força dos derrotados está mais em nossa avaliação equivocada do que no mundo dos fenômenos.

Eles estão se empoderando pelo fato de que não precisam refletir para serem atuantes em seu espaços de fruição e domínio. Porque a eles bastam os gritos. E porque nós, amuados pelos latidos, além de desanimados estamos nos permitindo debulhar sofrimentos, até nos momentos de avanço.

Neste 2 de outubro o PT obteve o melhor resultado de suas disputas presidenciais, em um primeiro turno. Ontem, um presidente em exercício obteve a maior derrota de nossa história, em um primeiro turno. E ainda assim eles festejam, enquanto boa parte de nossos formadores de opinião afundam no pessimismo sem sentido. Não entenderam a fala certeira de Lula.

Repito aqui: “sempre tivemos vontade de vencer no primeiro turno. Mas sabemos que isso nem sempre é possível. Nada acontece por acaso. É só mais uma provação….(…)… Há 4 anos eu era para ser um homem jogado fora da política. E lá eu disse que voltaríamos com mais força e vontade de lutar”.

Pois é isso, precisamos vencer aquela síndrome infantil e partir para as ruas. Tivemos sim, sucesso importante ontem, mas isso ainda é pouco. Precisaremos de mais energia para enfrentar o verdadeiro perigo, que cresce desde o golpe de 2016. Avançam, na nossa cara, graças à distração e descuido de muitos, a corrupção, o governo das milícias, a distribuição de armas e a desmoralização das instituições. A democracia está por um fio.

Por isso, mesmo a eleição de Lula sendo coisa certa, e o primeiro turno merecendo um dia de festa, o incerto nos assombra. Amanhã devemos recomeçar os trabalhos ativos pela garantia de governabilidade a partir de 2023. Pelo respeito aos direitos humanos, pela soberania nacional e pelo futuro de todos que dependem de nosso envolvimento. É isso que determinará a capacidade de aglutinação e a ampliação ou o esfacelamento da rede que opera em favor do esclarecimento daqueles que dormem distraídos.

*Engenheiro Agronômo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio  e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.

Imagem de charge de Latuf para 247 divulgada na internet.

*Leonardo Melgarejo -eonardo Melgarejo, integrante da Associação Brasileira de Agroecologia e representante da sociedade civil na coordenação do FGCIA (Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos)

Fonte- RED- As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.


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