Áudios obtidos pela PF mostram militares dispostos a uma ‘guerra civil’ para manter Bolsonaro no poder
Semana marcante. Parecia impossível, mas piorou (por Leonardo Melgarejo)
O ministro Kassio escreveu (e leu) que não enxerga problema na menção de retorno do AI5 ou na demanda por cassação dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Nem intencionalidade de desmoralização do STF nas falas daquele deputado bolsonarista, que chamava o ministro Fachin de "moleque, mimado, mau caráter, marginal da lei", "vagabundo, cretino e canalha", a "nata da bosta do STF."
O Kassio também afirmou não perceber ameaças em frases como “Por várias e várias vezes já te imaginei tomando uma surra, uma surra bem dada nessa sua cara com um gato morto até ele miar, de preferência, após cada refeição".
Ou de que o deputado sentiria vontade de “que o povo entre dentro do STF, agarre o Alexandre de Moraes pelo colarinho dele, sacuda aquela cabeça de ovo dele e jogue dentro de uma lixeira”.
O ministro Kassio também não deu importância ao fato de Daniel Silveira, referindo-se ao STF, dizer que “eu tô literalmente cagando e andando para o que vocês pensam, né. É claro que vocês vão me perseguir o resto da minha vida política. Mas eu também vou perseguir vocês… vou ter medo de 11? Que não servem pra porra nenhuma nesse país? Não. Não vou ter. Só que eu sei muito bem com quem vocês andam, o que vocês fazem."
Condenado contra o voto de Kassio, por 10 dos 11 ministros do STF, aquele indivíduo recebeu no dia seguinte, 21 de abril, o perdão presidencial.
O que isso significa? Que ele esta livre para continuar a fazer das suas? Que para eles a impunidade é garantida?
Não sabemos. Somos expectadores.
E como somos expectadores passivos e amedrontados, tudo que é irreal pode vir a ser possível, neste pais sem rumo.
Por estas e outras, também não dá vontade de comentar a última declaração da Organização Mundial da Saúde, já que ela também pode ser revogada. Vejam que, segundo a OMS, o numero de vitimas de covid no Brasil está sendo subestimado em 50%. Nossos mortos pela "gripezinha", segundo a OMS, já superariam 1,24 milhão de pessoas.
Sem querer pensar no que isso quer dizer, nesta semana minha recomendação é simples: vá ao cinema.
Vá assistir Medida Provisória.
E vá acompanhado/a/e porque este é um filme para ser discutido e redimensionado a partir das vivências de cada pessoa.
Não faltarão, em autocríticas, lembranças vergonhosas de momentos de omissão, ou cumplicidade, quando nos deixamos arrastar em ondas de maldade alimentadas pelo racismo estrutural que vem destruindo, há gerações, o futuro deste pais.
Também posso afirmar que não faltarão motivos de orgulho, ligados àquelas atitudes corretas, que fizeram de nós o que hoje somos. Aqueles momentos de superação onde nos percebemos animados ao enfrentamento de desafios que pareciam intransponíveis como os expostos nas metáforas e na realidade crua deste filme.
Se possível, em Porto Alegre, dê preferência ao CineBancários (rua General Câmara 424, centro de Porto Alegre) em cartaz pelo menos até esta quarta-feira (27), às 15h e às 19h. Na saída, se tiver sorte, pense na oportunidade de acalentar e esmiuçar as informações ali recebidas, em algum um dos pontos da cidade onde acontece, neste período, o Festival das Comidas de Boteco. Mas isso não é fundamental, e nem é relevante para este texto, neste momento. É um outro assunto, e vai ficar para a próxima semana.
O essencial aqui é o fato de que Medida Provisória é uma obra de arte, que nos conecta com o Brasil de sempre, que faz pensar, rir e chorar. É também um manifesto político e um chamado à conscientização e à ação coletiva.
Sem spoiler, posso afirmar o mínimo: atores/atuações espetaculares, músicas lindas, fotografia e direção de arte, bem como mensagens subliminares e conteúdo, envolventes, de marcar na paleta, para sempre. Tudo numa peça só. Veja para crer e vá cedo já sabendo que a sala vai lotar, e que e lá não será possível sair como um/a/e expectador passivo/a/e.
Pois bem, esta é a grande notícia da semana: o Brasil afunda mas o Sindicato dos Bancários reabriu emoldurando com categoria a falta que nos fez ao longo dos dois anos em que esteve cerrado. E nesta retomada, com um único lance, voltou ao lugar que lhe cabe no apoio às lutas coletivas pelo amadurecimento do povo desta cidade.
Um ótimo marco para a amenização da pandemia, que – apesar da ocultação dos números e das falas do prefeito, dos ministros da saúde e do presidente, arrefeceu mas não acabou.
Vá de máscara, e tenha como certo: este filme é também uma convocação. Ele não deixa duvidas: está mais do que na hora de voltarmos para as ruas.
E o filme ajuda nisso.
Medida Provisória mostra que está em nós, talvez oculta, esperando para ser ativada, uma convicção. A de que apenas com solidariedade, alegria, arte e fé conseguimos superar os períodos de trevas.
Ou, dito de outra forma, nas palavras de Frantz Fanon: “há que envolver todo o mundo no combate pela salvação comum”. Porque nestas horas, nesta cidade, neste pais, também se aplica o que ele escreveu no século passado: chegamos àquele um momento onde "todo espectador é um covarde ou um traidor".
Uma música, diretamente do filme Medida Provisória
:: Ouça esta coluna em áudio no site do Coletivo Catarse ::
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira
Leonardo Melgarejo
Engenheiro Agronômo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio (2008-2014) e presidente da AGAPAN (2015-2017). Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (2018/2020 e 2020-2022) e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.
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