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Primeiro de Maio gaúcho inova ao acolher 'o povo sem carteira'
Depois de dois governos - Temer e Bolsonaro - que suprimiram direitos trabalhistas, os atos do 1º de Maio do terceiro governo Lula vão acolher, no Rio Grande do Sul, também os trabalhadores mais fragilizados nos últimos sete anos, aqueles que atuam através de aplicativos, além dos terceirizados.
“Estamos articulando o povo sem carteira. Vamos botar ônibus para todos poderem participar: o povo dos aplicativos, das cooperativas, das cozinhas comunitárias, das comunidades. Todos engajados”, anuncia o presidente da CUT/RS, Amarildo Cenci.
Além da CUT, também CSB, Força Sindical, Pública, Intersindical, CTB e UGT estão chamando para o ato unitário desta segunda-feira (1º) na praça da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. Das 14h às 18h, estão previstas diversas atrações culturais.
Haverá participação das Femenejas (um grupo de mulheres que canta sertanejo), o rap de Dekilograma, o rock de Alquimia Voodoo, o samba do Areal do Futuro e a banda do Sindicato dos Músicos do RS, bem como uma esquete teatral dos Artistas pela Democracia.
No estado, também haverá manifestações em cidades como Caxias do Sul, Pelotas, Santa Maria, Rio Grande, Passo Fundo e Tramandaí.
Mais otimismo porém moderado
Cenci relaciona, entre as novas adesões do segmento mais precarizado, as do Sindicato dos Motoristas em Transportes Privados por Aplicativos/RS (Simtrapli-RS), além do sindicato que reúne os motoboys. “Vamos ter um grupo significativo dos trabalhadores de aplicativos no 1º de Maio”, confia Neiva Lazzarotto, que lidera a Intersindical.
“Os motoboys e trabalhadores de Uber, de 99 e de outras bandeiras não tem garantia nenhuma e precisam ter, pelo menos, garantias mínimas”, insiste Guiomar Vidor, presidente da CTB/RS. “Com a reforma da previdência - exemplifica - se um trabalhador receber, em certo mês, menos do que um salário mínimo, esse mês não vai constar pra aposentadoria dele. E isso tem que ser preocupação prioritária nossa”.
Érico Correa, que preside o Fórum Sindical/RS, acentua que “todos devem ter direito às garantias mínimas de trabalho, previdência e assistência”.
Neste ano, com a posse de Lula, a data traz maior otimismo porém moderado. “Barramos o fascismo. Não derrotamos ele mas barramos. Estamos retomando o Brasil para mãos do povo mais humilde que é 80% da população”, argumenta Cenci. “Há otimismo em relação à derrota da extrema-direita. Mas é luta que segue... o capitalismo segue dando as cartas”, ecoa Correa.
Correlação de forças desfavorável
Dentro do mesmo espírito, Neiva observa que, se a esperança é maior, resta “uma enorme preocupação com a extrema direita tentando acossar o governo Lula com ameaças de golpe como no 8 de janeiro. Estamos em período de alerta”. Lembra de ter ouvido do próprio Lula, em 18 de janeiro, uma recomendação aos sindicalistas. “Ele nos disse: mobilizem, pressionem o governo. Ele sabe que, do outro lado, ele é pressionado”.
“Sabemos que a atual correlação de forças não nos é muito favorável portanto mais importante se torna a mobilização popular”, concorda Vidor. “Vivemos o maior período de regressão civilizacional após o golpe contra a ex-presidenta Dilma e na sequência teríamos a continuidade dessa desconstrução dos direitos. Isso, pelo menos, foi suspenso”, pondera.
Carteira assinada, menos juros e mais democracia
A pauta das centrais traz muitos temas, mas, para Correa, os três mais relevantes são o "trabalho decente" – ou seja, com direitos trabalhistas – a redução da taxa de juros e defesa da democracia. Cenci fecha nos três pontos. "O primeiro é combater essa taxa de juros altíssima que tira do prato do povo para botar na boca de meia dúzia de especuladores. Cada 1% de juros significa R$ 40 bi a menos para as políticas públicas”. E lutar por carteira assinada e democracia com participação popular."
À redução da taxa de juros e à regulamentação do trabalho com aplicativos, Vidor junta a valorização do salário mínimo nacional. Para Neiva, também é decisiva a questão salarial. Aumento real do salário, recuperação dos direitos trabalhistas e revogação do novo ensino médio são as suas prioridades.
Todos coincidem na questão dos juros.
“Se não derrotarmos o crime dessa taxa escorchante não vamos a lugar nenhum”, enfatiza o presidente da CUT/RS. “Não há projeto de país, não há governo Lula, com a manutenção de uma taxa três vezes e meia maior do que a inflação. É um assalto ao trabalhador, ao consumidor, e inclusive ao setor empresarial que produz”.
Com juros de 17,5% “não há chance de gerar mais empregos”, critica a presidente da Intersindical. Para ele, “o sistema financeiro está saqueando o nosso país”.
“Os juros são um dos pilares da política econômica que privilegia a especulação e leva a uma redução no setor produtivo”, comenta o representante do Fórum Sindical.
“É a maior taxa de juros do mundo”, reclama Vidor, sugerindo também uma ação conjunta para combatê-los unindo trabalhadores, empresários do setor produtivo e a sociedade civil organizada.
“Não entregar a Corsan aos vampiros”
E quais são as prioridades em relação ao Rio Grande do Sul?
“O principal desafio para os trabalhadores gaúchos é conquistarmos um piso regional digno. O governo estadual insiste em não reajustar o piso”, diz Cenci. “O governo Eduardo Leite tem que aumentar o mínimo regional, pagar bem aos servidores e usar recursos públicos para incentivar pequenos agricultores e pequenos negócios”, reforça Neiva.
“Os servidores sofrem há quase uma década o pior arrocho salarial de sua história, os aposentados estão sobretaxados na previdência e agora Leite encaminha alterações no IPE Saúde que aprofundam a crise”, avalia Correa.
Vidor aponta como grande obstáculo o viés privatizante da gestão do PSDB. Para ele, o estado não pode ficar tão dependente do agronegócio “que paga pouco imposto e gera poucos empregos”. Acha fundamental ter um projeto de desenvolvimento que leve em conta o polo naval, no Sul do estado, o polo metal-mecânico na Serra e o polo coureiro-calçadista no Vale do Rio dos Sinos.
“Temos que resolver o problema das estiagens e não com paliativos”, retorna Cenci. Ressalta ainda a defesa da Companhia Riograndense de Saneamento: “Não podemos entregar a Corsan aos vampiros do capitalismo”.
Edição: Marcelo Ferreira
Ayrton Centeno
Brasil de Fato | Porto Alegre |
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