Pelotas em Luta: Sábado tem plenária aberta no Chafariz do Calçadão contra a PEC do Estupro
Porque gado a gente marca tange ferra, engorda e mata. Mas com gente é diferente (por Leonardo Melgarejo)
O destaque da semana, sem duvida, foi a ocupação da Bovespa por militantes do MTST. Tratou-se do mais bem sucedido e emblemático de todos os protestos contra a fome, e deve girar o mundo, ampliando a difusão de nossas vergonhas. Carregando ossos, no centro econômico do país, aqueles brasileiros ofuscaram, com sua iniciativa, todos os outros acontecimentos.
O que pensar, agora, da afirmativa de Bolsonaro, mentindo na ONU que nosso país alimenta um bilhão de seres humanos? Como esquecer os 19 milhões que passam fome, enquanto cresce o comércio de ossos, pelancas e grãos de descarte neste ano de supersafra em que contabilizamos 20 novos bilionários?
Como deixar de notar que naquela atividade da Bovespa, os protagonistas eram anônimos e que, do amontoado onde costumam ser ocultados por estatísticas, emergiram com bandeiras surradas, punhos fechados e olhos brilhantes de dignidade?
Ativistas, sim senhor, gente que se recusa a ser tratada como rebanho, e que indica, como Anita Leocádio Prestes anunciou dia 23 no Programa Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato, o quanto precisamos de lideranças revolucionárias, comprometidas com mudanças reais.
O fato me fez lembrar que algum norte-americano, invisível como os militantes do MTST, serviu pizza a nosso ministro de Saúde, dispersador de vírus. Também é certo que havia um motorista daquela van, de onde Queiroga fez dedinho enquanto nosso chanceler fazia arminha para o mundo, sob o riso de nossa triste comitiva presidencial.
Correm risco de vida, aqueles cidadãos americanos, assim como os funcionários da churrascaria, do hotel, e tantos que por azar cruzaram com a bomba biológica ministerial enviada desde nosso Brasil, contra a ONU? Ninguém é responsável? A culpa é do PT? Ou somos nós, os culpados?
Para registro, reflexão e fácil acesso a eventuais interessados, relembremos:
Nesta semana o presidente brasileiro mentiu, de novo, na Assembleia Geral das Nações Unidas. Desprezou os temas de interesse global e falou exclusivamente para sua turminha, do cercadinho que se faz mais e mais esvaziado. Também causou espanto ao afirmar que há dois anos e 8 meses estamos livres da corrupção e de um socialismo que avançava no governo Temer. Para choque geral, ainda defendeu, contra o mundo, o comércio e o uso de drogas inúteis para enfrentamento da covid.
Mas a semana foi além, com seu filho Eduardo contaminado apesar da cloroquina, com sua ex-exposa Ana Cristina envolvida em maracutaias milionárias ocorridas em seu gabinete, com seu filho Renan denunciado por ameaça a senadores da República e com seu filho Flávio Bolsonaro acusado de articulação com o suspeito diretor da Precisa para tentativa de legalização do jogo, no Brasil. Iniciativa muito útil, para aquecimento de dinheiro sujo, para fortalecimento de milícias e toda forma de golpe. Tão grave, que neste caso a acusação partiu do atento bolsonarista, senador Eduardo Girão.
Naturalmente as repercussões disso tudo são por demais relevantes, em especial no exterior, onde estamos deixando de merecer qualquer credibilidade.
Destaque-se que ao mesmo tempo em que o MTST faz por nos acordar, a PEC32 avança nos empurrando rumo ao desastre, que a decisão sobre o Marco Temporal foi suspensa e que o apagão já se faz tão iminente que Bolsonaro pede ao povo que apague a luz, que evite elevadores e que passe a tomar banhos frios. Bolsonaro se merece também nestas recomendações de escassa serventia concreta, mas eficazes como artimanhas para transferir aos cidadãos a responsabilidade sobre desastres que se avizinham, em decorrência de sua inépcia.
Na tradição de terminar esta coluna com música, em semana tão peculiar, vamos de Disparada, com Jair Rodrigues.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko, Brasil de Fato-RS
Leonardo Melgarejo
Engenheiro Agronômo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio (2008-2014) e presidente da AGAPAN (2015-2017). Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (2018/2020 e 2020-2022) e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.
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