Contraponto: Procissão em homenagem a São Jorge Ogum Guerreiro celebra fé e resistência
“Nós estamos aqui porque muitos vieram antes de nós”, afirma Biloca nos 103 anos do PCdoB
O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) completa 103 anos em meio a um cenário político nacional desafiador e polarizado. A data marca não apenas a longevidade de uma legenda histórica, mas também reafirma o compromisso de seus militantes com a democracia, a justiça social e a soberania popular.
Em Pelotas, os militantes Lígia Chiarelli, conhecida como Biloca, e Jederson Borges, presidente municipal do PCdoB, participaram de uma conversa no programa Contraponto, nesta terça-feira, 25 de março. Na entrevista, relembraram a trajetória de resistência do partido e refletiram sobre os desafios atuais enfrentados pela esquerda brasileira.
Uma história de resistência e luta pela democracia
Fundado em 1922, o Partido Comunista do Brasil atravessou diversos períodos de repressão e ilegalidade. Biloca lembrou que o partido resistiu tanto à ditadura de Getúlio Vargas quanto à militar, sustentando sua atuação mesmo na clandestinidade. “Se temos apenas 40 anos de redemocratização, isso significa que o partido passou mais da metade da sua existência sendo perseguido”, disse.
Ela destacou o papel fundamental daqueles que vieram antes na luta por liberdade. “Nós estamos aqui porque muitos vieram antes de nós, na luta pela democracia”, afirmou, lembrando o alto custo humano e político de resistir ao autoritarismo no país. Biloca também mencionou o papel da juventude nas lutas passadas, especialmente durante o regime militar, quando muitos dos mortos e desaparecidos tinham menos de 24 anos.
Na avaliação da militante, a luta atual do PCdoB está centrada no combate à extrema-direita. “Precisamos construir uma frente ampla para derrotar o fascismo, que se alastra não só no Brasil, mas no mundo inteiro”, defendeu, reafirmando a linha de atuação do partido no cenário político contemporâneo.
Ações locais e projetos de impacto
Jederson Borges destacou o papel do PCdoB em Pelotas, ressaltando conquistas recentes e a presença ativa do partido em pautas locais. Ele citou a parceria com a deputada federal Daiana Santos, que tem destinado emendas parlamentares a projetos sociais importantes da cidade, como o Odara. “São recursos fundamentais para manter a organização das bases e iniciativas transformadoras”, afirmou.
Ele também lembrou a importância da atuação do partido na vitória eleitoral que encerrou um ciclo de 20 anos de hegemonia conservadora na Prefeitura de Pelotas. “Conseguimos abrir espaço para um novo projeto político, com foco na periferia e nos direitos sociais”, disse. Entre as conquistas mais simbólicas estão a criação das secretarias municipais da Mulher e da Igualdade Racial, pautas históricas do PCdoB.
Outro ponto de destaque foi a campanha pelo modelo de jornada de trabalho 5x2, lançada pela deputada Diana Santos e que prevê dois dias consecutivos de descanso semanal. Biloca explicou que a proposta está sendo divulgada por meio de um abaixo-assinado, tanto online quanto em bancas físicas. “Essa é uma questão urgente, especialmente para as mulheres, que não têm folga real quando o único dia de descanso vira o dia das tarefas domésticas”, argumentou.
Juventude e reconstrução do diálogo político
A entrevista também abordou a preocupação com o crescimento do conservadorismo entre jovens, especialmente entre os homens. Jederson e Biloca reconheceram que há um desafio real em reaproximar a juventude das lutas populares. “Houve um esvaziamento dos centros acadêmicos, DCEs e grêmios estudantis. Isso é reflexo de anos de descrédito da política e da destruição da memória”, analisou Jederson.
Biloca destacou que o PCdoB tem investido em diálogo com o movimento secundarista, buscando formas de se reconectar com a linguagem e as referências atuais da juventude. “A juventude sempre foi generosa e combativa. O problema é que foi empurrada para o individualismo. Precisamos recuperar o sentido coletivo das lutas”, afirmou.
Ela também lembrou que o partido atua em conjunto com outras forças progressistas, promovendo atividades de formação política e engajamento com jovens. “O PCdoB nunca age sozinho. Sempre buscamos somar com os movimentos sociais, estudantis e populares”, disse.
Feminismo, protagonismo e luta social
Biloca fez uma análise profunda do papel das mulheres na política e criticou a invisibilização histórica da participação feminina nas lutas contra a ditadura. “Se você procurar no Google ‘mulheres e ditadura’, vai encontrar só as que marcharam com Deus, pela família e pela propriedade. Como se não tivéssemos participado da luta armada, da resistência, da construção da democracia”, denunciou.
Ela ressaltou que, apesar dos avanços, ainda há muitos obstáculos à participação efetiva das mulheres nos espaços de poder. “A Dilma foi atacada com base em estereótipos de gênero. Queriam derrotar um projeto político, mas usaram o machismo como ferramenta”, afirmou. A militante também valorizou o trabalho do partido em promover conferências internas sobre gênero e raça voltadas para toda a militância.
Segundo ela, o feminismo só se sustenta quando vinculado à transformação social. “Não vamos vencer o feminicídio dentro do capitalismo. Podemos mitigar, claro. Mas a raiz está na lógica de propriedade e dominação. Por isso a luta precisa ser socialista”, concluiu.
Avaliação do cenário político em Pelotas
Ao final da entrevista, Jederson Borges fez uma leitura do momento político em Pelotas e reforçou o apoio à vereadora Fernanda Miranda, que enfrenta processo na Comissão de Ética da Câmara. “É um dia triste, mas também é um dia de luta. Não vamos permitir que uma perseguição política e de gênero afaste uma voz tão importante dos trabalhadores”, afirmou.
Ele destacou que o partido tem qualificado sua militância e construído ações concretas na cidade. “Estamos colhendo frutos da participação ativa. Criamos espaços institucionais que vão gerar efeitos a curto e longo prazo, como políticas públicas para as mulheres, combate ao racismo e valorização da história negra nas escolas”, disse.
A militância do PCdoB também tem incentivado a participação nas conferências nacionais promovidas pelo governo federal, como as da saúde, meio ambiente e igualdade de gênero. “É papel do partido mobilizar as pessoas para essas discussões. Não é só presença partidária, é envolvimento da sociedade nas decisões que nos afetam diretamente”, finalizou.
*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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