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Lula e Martin Schulz defendem acordo entre Mercosul e Europa baseado no desenvolvimento global
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta terça-feira (5), do debate “Brasil-Alemanha – União Europeia: desafios progressistas e parcerias estratégicas”, com a presença do alemão Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu e representante da Fundação Friedrich Ebert (FES). A conversa tratou da necessidade de um acordo econômico entre Mercosul e União Europeia, além de um projeto global de desenvolvimento social e ambiental.
O evento promovido pela Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, teve como objetivo falar sobre parcerias estratégicas entre Brasil e Alemanha e desafios do campo progressista na América do Sul e na Europa, como fortalecimento da cooperação com a União Europeia, questões ambientais ligadas ao desenvolvimento, igualdade social, de gênero e raça.
Em sua fala, Lula defendeu o papel diplomático de sua antiga gestão em debates globais. Na avaliação dele, um modelo de negócios entre latino-americanos e europeus pode ser um exemplo para outras nações. “O Brasil pode conquistar a confiança da América do Sul e ser um dos contribuintes para um grande acordo. Nós já sabemos onde erramos e acertamos e foi um erro não termos fechado um acordo entre Brasil e União Europeia. Precisamos fazer um acordo que sirva de modelo para outros negócios mundiais”, defendeu.
O ex-chefe do Parlamento Europeu acrescentou que a globalização e as negociações mundiais precisam de regras e padrões mínimos, que envolvam o desenvolvimento social desses países. “Eu endosso sua opinião de que é preciso um acordo entre Mercosul e União Europeia, contemplando as normas da OIT (Organização Internacional do Trabalho), garantindo direitos para todos. Não é possível só fechar um acordo que pense apenas em lucros, mas também em desenvolvimento social”, defendeu.
ONU
O ex-presidente Lula criticou a Organização das Nações Unidas (ONU) que, segundo ele, está desatualizada. “Nós continuamos a acreditar que, para o bem da humanidade, é preciso defender uma estrutura de governança mundial. A ONU de 1948 não representa mais os anseios da humanidade. Vamos usar como exemplo o tema do meio ambiente. Há um encontro mundial para tomar decisões, mas os Estados nacionais não aprovam as resoluções. O Protocolo de Quioto é um dos exemplos, que foi aprovado na ONU, mas recusado pelos Estados Unidos”, disse.
Lula também abordou o individualismo das nações desenvolvidas e falta de cuidado com os países mais pobres. Ele citou a desigualdade na vacinação, lembrando da baixa imunização no continente africano, e recordou dos problemas deixados pela crise econômica de 2008.
“A crise de 2008 foi muito grande, causada pelo sistema financeiro, e bateu forte no povo pobre. Os países ricos paralisaram o comércio e defendi a criação de um fundo de investimento nos países mais pobres, para ajudar o desenvolvimento deles. Porém, o protecionismo aumentou e, a cada país que defendia o livre comércio, fecharam as portas para negociações”, criticou o brasileiro.
Assim como Lula, Martin Schulz acrescentou que a dificuldade atual do mundo é fruto das regras vinculativas internacionais para todos os países e disse que a ONU “não está fazendo seu trabalho”. “Tudo isso é tão dramático, porque esse não-desenvolvimento é propagado por entidades ultraconservadoras de direita, que desrespeitam as convenções de meio ambiente, direitos trabalhistas e tantas legislações. Essas pessoas não se importam com isso, apenas com interesses pessoais. Isso é extremamente perigoso, porque o mundo global precisa de regras”, alertou.
Elogios e ‘encanto’
Antes de finalizar sua fala, Martin Schulz elogiou a gestão do ex-presidente Lula. De acordo com o alemão, a política do Brasil, no começo desse século, “deixou a Europa encantada”. Direcionado ao ex-chefe do Executivo, Schulz disse que o governo petista foi um pioneiro na defesa de direitos internacionais e liderou um movimento global e multilateral.
“Seu nome sempre foi ligado a tudo isso. Por isso não me espanta a perseguição sofrida, pois é um símbolo de uma política plural. Para mim, você sempre foi um exemplo brilhante da política de esquerda, com visões inesgotáveis e práticas. Por outro lado, também chegou ao topo e se manteve a mesma pessoa”, finalizou.
Por Redação RBA
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