MPRS de Pelotas firma TAC para restauro do Theatro Avenida
Já não sonho, hoje faço (por Leonardo Melgarejo)
Semana com tantas novidades, que é difícil escolher um tema.
Só para constar, não bastasse o Lula ser inocente das acusações que o levaram a passar 580 dias em cana, por conta da tramoia que nos afundou nesta era das trevas, agora seu principal acusador, o Chefe da Operação Lava Jato, Dr. Deltan Dallagnol, foi condenado a pagar indenização por Danos Morais. O importante aqui é a condenação, que reafirma a importância das provas, em peças de acusação. Deltan não foi demitido. Espertamente já havia se desligado do serviço público, para ocupar função política de menor expressão e remuneração. É um dos raríssimos brasileiros para quem dinheiro não é problema. Foi condenado por desmoralizar o Ministério Público, montando teatro acusatório sem base e facilitando que, com isso, seu parceiro, aquele juiz suspeito, alcançasse o objetivo que os beneficiava. Retirar o Lula da cena política e levar vantagens com sua condenação, ainda que sem provas.
Esta condenação indica que aquela dupla, o Suspeito e o Culpado, logo estará engrossando um amplo Coral dos Condenados.
O ex-juiz sabe que – até para proteção da magistratura que ele ofendeu – em havendo julgamento e nele prevalecendo a justiça baseada em provas, sua condenação será inevitável. E o mesmo aguarda outros beneficiários da conexão golpista. Ok, alguns vão ficar de fora, até porque esta turma é enorme. Mas o futuro ex-presidente, parte de seus amigos e familiares, alguns de seus atuais e ex-ministros, vizinhos, amigos, comparsas, assessores e quem até o misterioso fantasma que mandou matar Marielle, tendem a saltar direto do lamaçal para a cadeia.
Para constar, eis que ilustra bem esta conversa, vale lembrar que o escândalo de corrupção e audácia criminosa, desta semana, foi no Ministério da Educação e Cultura. Ali, pastores bolsonaristas intermediários em atividades relacionadas ao repasse de verbas, cacifados por ordem do presidente da República, conduziam esquema do tipo toma-lá-o-dinheiro-do-governo, mas antes, dá-cá-o-nosso. Pelo menos dez prefeitos já denunciaram que ali funciona cobrança de propina para acesso a recursos do MEC, que não deixa de lembrar o escândalo das vacinas no ministério da saúde.
Aqui os relatos envolvem inclusive inusitados descontos para propina com pagamento imediato. Na fala do prefeito de Bonfinópolis/GO, Kelton Pinheiro (Cidadania), o pastor Arilton Moura “sentou do meu lado, em um dos lados da mesa, falou: ‘olha prefeito, eu vou ser direto com você. Tem lá um recurso para liberar com o ministro, mas eu preciso de R$ 15 mil hoje'”. ... E foi além, talvez para evitar mal-entendidos... “Ele disse: ‘vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil'”.
Cinquenta por cento de descontos, pela intermediação criminosa de recursos públicos. Uma pechincha que não ocorreu com o prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB). Neste caso, “o pastor Arilton Moura pediu propina de 1 quilo de ouro para liberar recursos do MEC destinados à construção de escolas e creches em sua cidade”.
A inveja é um pecado capital, e os pastores que serão julgados também por isso não deviam facilitar a condenação de almas invejosas. Mas convenhamos, neste caso a reclamação é justa. Afinal, hoje, 1 kg de ouro vale R$ 303.220,00.
Mas o espaço é curto para seguirmos este assunto. E nesta semana o grande tema foi o Fórum Mundial da Água, com várias atividades em eventos internacionais e nacionais. Aqui, em todos os casos, o modelo de produção agropecuária, baseado em monocultivos dependentes de agroquímicos apareceu como principal responsável pelo envenenamento de fluxos e reservatórios de uma água que – em muitos locais – ainda se faz escassa pelo aquecimento global.
A solução? Acabar com desperdícios, plantar árvores, mudar o sistema de produção, adotar orientações e práticas de base agroecológica, conscientizar e mobilizar a sociedade.
E isso nos coloca diante do verdadeiro conteúdo desta semana, a defesa da vida. Isso ajuda a relembrar a 19ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, ocorrida semana passada, no munícipio de Nova Santa Rita. Ali, agricultores assentados, utilizando praticas amistosas ao ambiente, sem venenos e adubos químicos, estão colhendo, nesta safra, 15,5 mil toneladas de arroz orgânico.
Naquele mesmo município, há mais de ano, famílias de agricultores vinham sendo envenenadas pela deriva de pulverização aérea de agrotóxicos utilizados em lavoura de arroz do tipo tradicional. É a tal “convivência” de modelos, onde alguns, estimulados pelo Ministério da Agricultura impedem outros, que até o primeiro dia do governo Bolsonaro eram estimulados pelo extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário, de produzir saúde.
Pois bem, aquele sistema de produção que envenena a água, os grãos e tudo e todos que circulam por ali, ainda que se mostre desnecessário como evidenciou a festa da colheita, se repete, causando danos em vários locais.
Daí a importância de Nova Santa Rita, pelo exemplo. Aqueles agricultores ecológicos conseguiram não só reunir o apoio de organizações e populações urbanas e rurais, como venceram ação judicial de importância nacional. Agora eles sabem que pelo menos naquela vizinhança, todos os habitantes estão livres da chuva de venenos. Mas só ali, e isso não lhes parece justo.
E por quanto tempo? Observando que os bolsonaristas têm pressa em destruir a legislação ambiental e que contam, para isso, inclusive com o apoio de alguns pseudo desafetos, aqueles agricultores perceberam que a guerra continua.
Então, que avanços e retrocessos serão possíveis?
Vai depender do que aceitarmos, e do momento em que pararmos de trabalhar pelo bem comum.
Vai depender da consciência que determinará a ação ou inação de pessoas sob risco de problemas genéticos, hormonais, reprodutivos e respiratórios, entre outros dramas relacionados ao uso de agrotóxicos.
Ainda que as pessoas não entendam o que isso possa significar, nosso futuro dependerá do naipe e do perfil do presidente, dos governadores, dos deputados e senadores que vierem a ser eleitos em outubro deste ano.
Mas não bastará esperar a hora de votar ou mesmo ajudar a esclarecer outros e outras, para que seus votos se façam conscientemente apoiados por informações fundamentadas.
Há muito a fazer. E os eventos do FAMA, da Festa da Colheita, e da luta dos assentados fumigados contra a pulverização aérea de agrotóxicos mostram o valor disso. Para facilitar devemos no mínimo e desde agora apoiar as pessoas, grupos e organizações que estão atuando em defesa de nossos interesses comuns. É o que fazem aqueles golpistas, contra nós. E é o que devemos fazer, em defesa de todos.
Vejam que com esta consciência, e chamando atenção para o fato de que a chuva de venenos que os intoxicou e queimou suas plantações, ocorre em outros locais e ameaça a todos, que os agricultores de Nova Santa Rita foram além. Mostrando que boa parte do abastecimento de água dos habitantes da Região Metropolitana envolve áreas de proteção ambiental, e que por lei, na zona de amortização destas APA não podem (e estão sendo) utilizados agrotóxicos, eles estão se mobilizando para pôr um fim nisso.
Resumidamente, eles concluíram que nós precisamos de um polígono de exclusão para uso de agrotóxicos, na zona de amortecimento do parque, e que nossa sociedade, desatenta para esta realidade, acaba facilitando a intoxicação de milhões.
Pois bem, é para discutir essa realidade que aqueles agricultores convidam a todos gaúchos para seu seminário em defesa de áreas livres de venenos, que examina polígono de exclusão para a Região Metropolitana de Porto Alegre e que neste dia 28 de março será transmitido ao vivo pelas Redes Soberania, Brasil de Fato RS, Amigos da Terra Brasil e Repórter POP.
Como canta Milton nascimento, em Travessia, o tempo mudou. E a partir de agora, bola pra frente e não adianta chorar.
É momento de soltar a voz, descruzar os braços e com eles refazer nosso viver.
Para que não pareça que a guerra perdeu interesse e centralidade, vejam Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato desta semana, com Antonio Andrioli.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko
Leonardo Melgarejo
Engenheiro Agronômo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio (2008-2014) e presidente da AGAPAN (2015-2017). Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (2018/2020 e 2020-2022) e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL
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