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Iniciativas agroecológicas em assentamentos podem ser 'turbinadas' com acesso a políticas de incentivo
Em Pernambuco, o agricultor e assentado da reforma agrária Valdemar Félix da Silva relembra do período em que ele trabalhou para uma Usina de Açúcar, no município de Moreno. O relato é de trabalho extenuante, que não poupava nem as crianças.
"A gente trabalhava no corte da cana. Plantava, colhia, tudo no manual. Não tinha máquina. Tudo era muito difícil. Essa região aqui nem energia tinha", recorda.
A monocultura da cana-de-açúcar na região representava condições precárias de trabalho e também agressões permanentes ao solo. Dema, como é conhecido na região, se transformou num trabalhador assentado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, hoje, é pelas suas mãos que nasce uma experiência agroecológica no mesmo território onde antes predominava a cana-de-açúcar.
"Eu levanto cedinho, toco as criações, coloco ração para os peixes e vou produzir alimentos: plantar batata doce, macaxeira e plantar árvores", comemora, satisfeito com o novo estilo de vida.
Dema mora no assentamento Che Guevara, organizado pelo MST. Alguns lotes deste território foram separados, durante a pandemia de covid-19, para produzir alimentos que foram destinados para a Campanha Mãos Solidárias.
Além disso, o assentados do Che Guevara estão iniciando a transição da agricultura tradicional para o modelo agroflorestal, marcado pelo cuidado com solo, pela diversidade do meio ambiente e respeito à natureza.
"Essas famílias que estão aqui no assentamento Che Guevara vem para a gente fazer a recuperação ambiental, a recuperação do solo, para que a gente pudesse plantar com dignidade e fazer a função social da terra", contextualizou Romildo Félix da Silva, mais conhecido como Axé, da direção estadual do MST em Pernambuco.
Investimento
O trabalho dos agricultores do Che Guevara esbarra, entretanto, em dificuldades de acesso ao crédito e assistência técnica, que poderiam ajudar a aprimorar as iniciativas agroecológicas na região.
"A gente não precisa só de crédito. Precisa também de assistência técnica, para que a gente possa fazer o planejamento da nossa produção e do trabalho, e com isso tocar o dia-a-dia", pontua Axé.
"Há uma luta ainda, para nós aqui desse assentamento, para receber os benefícios - tanto do Plano Safra quanto qualquer outro benefício de crédito que venha pelo governo", contesta Axé, citando as dificuldades burocráticas enfrentadas pelos trabalhadores assentados.
"É uma batalha nossa para entrar na relação de beneficiários. É quando nós somos reconhecidos pelo governo federal que somos agricultores, para que a gente possa acessar aos créditos", explicou.
Janela de oportunidade
O modelo de agrofloresta implementado no assentamento Che Guevara é considerado uma estratégia importante na preservação do meio ambiente. O tema da preservação da natureza e o enfrentamento às mudanças climáticas têm sido anunciados como prioridade do terceiro governo Lula.
Para estudiosos que defendem um ambientalismo popular, é possível conciliar desenvolvimento econômico nos países do Sul Global, com pleno emprego, e medidas de transição ecológica. Uma delas, por exemplo, poderia ser a aposta nas práticas agroflorestais de assentamentos como o de Dema, em Pernambuco.
"O que a gente precisa fazer é dar uma escala maior. Aumentar a rapidez de maturação e de crescimento dessas iniciativas e o alcance que elas podem ter. Isso só é possível se tiver capacidade de financiamento. Por meio da política, o Estado garante o financiamento, a capacidade técnica e a compra governamental desses produtos", analisou o professor da Universidade Federal do ABC, Victor Marques.
O Plano Safra é visto pelos especialistas e pelos próprios trabalhadores como uma frente de fortalecimento das práticas agroecológicas. Em junho, o governo federal anunciou o Plano Safra para Agricultura Familiar com valores recordes. O programa destinará R$ 71,6 bilhões em crédito rural para fomento ao trabalho de pequenos produtores durante a safra 2023/2024 – 34% a mais do que na safra anterior.
Para Dema, o investimento nas iniciativas realizadas pela agricultura familiar é positiva para garantir alimentos para quem vive no campo e na cidade. "O governo investindo aqui na gente vai ganhar todo mundo. Vai ganhar a periferia lá da cidade. E mais: vamos levar alimentos com baixo custo para a população da periferia"
FONTE: Brasil de Fato
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