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Grito dos Excluídos e das Excluídas volta às ruas de Porto Alegre nos 200 anos da Independência
Com o lema "Brasil, 200 anos de (In)dependência. Para quem?", movimentos populares, grupos da sociedade civil e ordens religiosas saíram pelas ruas em todo país, neste 7 de Setembro, na 28ª edição do Grito dos Excluídos e das Excluídas. Em Porto Alegre, a manifestação foi na periferia. Cerca de 3 mil pessoas marcharam no bairro Partenon, recebendo amplo apoio da população nas ruas, contra as desigualdades sociais perpetuadas no país, destacando o agravamento da fome, do desemprego, da inflação e do desmonte do Estado durante o governo Bolsonaro.
Organizado por mais de 25 entidades de diversos segmentos, como sindicatos, movimentos sociais, estudantes, partidos políticos e religiosos, o Grito na capital gaúcha foi marcado por intervenções artísticas, manifestações ecumênica e indígenas. Um carro de som acompanhou a caminhada, intercalando gritos de ordem e músicas. Nas falas, muitas críticas ao governo federal, enquanto baterias animavam a mobilização, repleta de faixas e bandeiras de movimentos sociais e partidos de esquerda.
Para Roseli Dias, integrante da Cáritas RS, uma das entidades organizadoras do ato, a manifestação cumpriu com as expectativas. “Um dia lindo, uma participação bastante expressiva, pessoas de todas as cores, de todas as idades, idosos, crianças, mulheres, homens, jovens, negros, indígenas, brancos, trabalhadores e trabalhadoras que entendem a importância de estarem nas ruas neste 7 de Setembro.”
Segundo ela, foi a oportunidade de dizer que as violências praticadas contra o povo não podem mais continuar. “É isso que nos move a estar nas ruas pacificamente, respeitosamente, cantando, rezando e se manifestando”, disse.
Caminhada passou por locais simbólicos
A concentração do ato iniciou às 9h, em frente à Igreja São José do Murialdo, com o grito pela democracia. Em frente à Unidade de Saúde Santo Alfredo, foi o grito pela saúde. Depois, em frente ao supermercado Carrefour foi a vez do grito antirracista contra a violência e o preconceito que matam, sobretudo a população negra.
“Nós do Santuário de São José do Murialdo abrimos nossas portas e coração para acolher esse movimento nacional do Grito dos Excluídos, daqueles que não têm quem os defenda de verdade com seriedade”, afirmou o padre José Bispo. “São 200 anos em que o grito acontece, porque ainda falta compromisso e responsabilidade com os sofredores. Nós queremos pedir que todas as famílias tenham condições de dignidade, de cuidar da sua própria família.”
Na sequência, passando pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), houve o grito pela água destacando a recorrente falta d'água nas comunidades da região. Em frente à PUCRS, foi a vez do grito pela educação e, na Praça Francisco Alves, encerrou com o grito contra a fome, com ato inter-religioso e partilha de alimentos.
O grito contra a fome contou com mística do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que distribuiu mil quilos de arroz orgânico aos participantes da manifestação. Gerônimo Pereira da Silva (Xiru), da coordenação no movimento, ressaltou que o MST sempre foi parceiro nas lutas na construção do Grito dos Excluídos e das Excluídas.
“Esse é o grito que diz não aos 67 milhões de desempregados no Brasil, que diz não à fome que assola mais de 31 milhões de pessoas no Brasil. Nós, enquanto MST, queremos trazer aqui a nossa ação de solidariedade de trabalhador e trabalhadora do campo com os trabalhadores e trabalhadoras da cidade”, disse Xiru sobre a doação dos alimentos.
Com a palavra, o povo excluído que grita
Participando pela terceira vez do Grito dos Excluídos e das Excluídas, a promotora legal e integrante da cozinha comunitária da Lomba do Pinheiro Norma Lilge afirmou que seu grito é de força por liberdade e na luta pelos excluídos. “Estou aqui porque sou uma defensora do direito das mulheres, dos deficientes. O Grito é uma forma do povo expressar a sua necessidade de ter os seus direitos reconhecidos, de se sentir ser humano dentro da sociedade que nos engessa e nos impõe várias coisas que podam dos nossos direitos.”
Moisés da Silva, vice-cacique da aldeia Kaingang aldeia Fàg Nhi, também da Lomba do Pinheiro, foi um dos diversos indígenas presentes na manifestação. “Estamos aqui na luta, a fome bateu para todos, mas unidos vamos conseguir vencer”, disse. Depois da sua fala, realizada na abertura do ato, houve apresentação de dança da aldeia.
Para Roberto Liebgott, coordenador do Conselho Indigenista Missionário Regional Sul (Cimi-Sul), o Grito de 2022 é de denúncia sobre os retrocessos que acontecem no Brasil. “É um apelo para que a gente renove, comece tudo de novo diante de um processo brutal de desconstrução dos direitos humanos e sociais, e um chamamento para que todos possam estar unidos na perspectiva da construção de um país, de um mundo do bem viver”, declarou.
Segundo Roberto, iniciar a mobilização com indígenas se dá pelo fato deles serem os originários filhos desta terra. “Dentre todos que estão aqui, ao longo deste processo de colonização, eles foram os que mais perderam. Perderam seus povos, suas terras, o direito de viver conforme seus costumes, crenças e tradições. Mas eles ressurgem, brotam, começam a lançar flores e sementes para uma nova sociedade.”
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