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‘Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição’, diz Lula
A abissal desigualdade que marca o passado e o presente da sociedade brasileira foi o fio condutor do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no alto do parlatório, no Palácio do Planalto. Pouco depois do discurso de posse feito no Congresso, Lula se dirigiu à multidão de 40 mil na Praça dos Três Poderes com uma fala marcada pela emoção.
Começou lembrando do carinho e apoio que recebeu durante todos os dias em que esteve preso em Curitiba, um dos momentos mais difíceis da sua vida, segundo ele mesmo. “Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral. Que ocuparam as redes sociais, e que tomaram as ruas, debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um único e precioso voto”, disse.
Lula destacou que governará para os 215 milhões de brasileiros e não apenas para quem o elegeu e fez um apelo à união nacional, de modo a pôr fim à desarmonia nas famílias causada por desavenças políticas.
“Não existem dois brasis. Somos um único país, uma grande nação. Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma mesma virtude: nós não desistimos nunca. Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há de chegar. E a primavera já chegou. Hoje, a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a esperança”, falou.
Mas a marca do discurso foi mesmo o aspecto da desigualdade, problema que levou o presidente às lágrimas mais de uma vez. Lula lembrou que, quando tomou posse em 2003, assumiu o compromisso de lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir que cada pessoa tivesse o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar. O Brasil conseguiu sair do Mapa da Fome, mas voltou a conviver com essa tragédia social 20 anos depois.
“A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem. O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade. Nos últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo”, afirmou.
O presidente se emocionou ao se referir às pessoas que estão nas sinaleiras clamando por ajuda para poder comer. Disse que há muito tempo não se via tanto abandono e desalento nas ruas, como mães garimpando lixo em busca do alimento para os filhos e famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo.
“Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna”, se comprometeu Lula, chorando e com dificuldade de seguir lendo o discurso e assumindo o compromisso de combater todas as formas de desigualdade, de renda, de gênero e de raça.
“É inaceitável que continuemos a conviver com o preconceito, a discriminação e o racismo. Somos um povo de muitas cores, e todas devem ter os mesmos direitos. Ninguém terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais obstáculos pela cor de sua pele. Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição. Esta será a grande marca do nosso governo. Dessa luta fundamental surgirá um país transformado. Um país de todos, por todos e para todos. Um país generoso e solidário, que não deixará ninguém para trás”, se comprometeu.
Da mesma forma como fez no discurso de posse no Congresso, Lula voltou a se referir de maneira contundente ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Disse que o povo brasileiro sofreu nos últimos anos a lenta e progressiva construção de um genocídio.
“Vivemos um dos piores períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim. Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar para a frente e a esquecer nossas diferenças, que são muito menores que aquilo que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso povo”, destacou.
Ao final, o presidente projetou criar empregos, reajustar o salário mínimo acima da inflação e baratear o preço dos alimentos. Falou também em criar mais vagas nas universidades, investir na saúde, na educação, ciência e cultura, assim como retomar obras de infraestrutura e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. E afirmou que seu governo irá trabalhar para “vencer o atraso de mais de 350 anos de escravidão” e recuperar o tempo e as oportunidades perdidas nos últimos anos.
“Precisamos, todos juntos, reconstruir e transformar o Brasil. É urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a desigualdade, que envolva a sociedade como um todo. É tempo de união e reconstrução. Quero terminar pedindo a cada um e a cada uma de vocês: que a alegria de hoje seja a matéria-prima da luta de amanhã e de todos os dias que virão. Que a esperança de hoje fermente o pão que há de ser repartido entre todos. Na luta pelo bem do Brasil, usaremos as armas que nossos adversários mais temem: a verdade, que se sobrepôs à mentira; a esperança, que venceu o medo; e o amor, que derrotou o ódio. Viva o Brasil. E viva o povo brasileiro!”, finalizou.
por Sul 21
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