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Em Pelotas, Marciano Perondi (PL) tem candidatura ligada a prefeito cassado de Bagé, Divaldo Lara (PTB)
Aproximados pela lógica bolsonarista, Marciano e Divaldo compartilham o mesmo discurso adotado pela extrema direita brasileira - Foto: Divulgação
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Supostos escândalos de corrupção, ligações com investigados em atentados políticos e uma mudança de cenário para coordenar bastidores marcam a trajetória recente de Divaldo Vieira Lara (PTB), prefeito cassado de Bagé, que agora figura como um dos principais nomes da coordenação de campanha de Marciano Perondi (PL), candidato ao segundo turno das eleições municipais em Pelotas.
Aproximados pela lógica bolsonarista, Divaldo e Marciano compartilham o mesmo discurso adotado pela extrema direita brasileira. Perondi se apresenta como um candidato "antissistema", prometendo uma "gestão diferente das anteriores" para Pelotas. Divaldo, considerado uma figura-chave na campanha, é visto como o estrategista responsável por moldar as ações políticas e estruturar o discurso que busca conquistar o eleitorado por meio de promessas ambiciosas.
Marciano Perondi, natural de Santa Catarina, viveu grande parte de sua vida em Caxias do Sul e mudou-se para Pelotas apenas em 2023. Sua falta de conexão com a cidade tem gerado críticas, uma vez que não conhece profundamente os problemas que aponta em sua campanha. Nesse cenário, Divaldo Lara, com uma trajetória política longa e repleta de supostos envolvimentos com escândalos de corrupção, surge como a pessoa responsável pela elaboração dos discursos de campanha.
Durante o debate promovido pelo podcast DDD 53, no domingo (20), Fernando Marroni (PT) ironizou a postura de Perondi, ressaltando sua dependência de orientações externas: “Agora, como o senhor não é daqui, o senhor fica ouvindo os papagaios de pirata que lhe acompanham pra dizer quais as palavras que o senhor deve usar aqui no nosso debate. Se o senhor ficar na tablada sem um GPS, o senhor vai ter que pedir um táxi pra voltar pra casa, porque não sabe voltar pra casa porque o senhor não é da nossa cidade."
A primeira evidência pública da relação entre Divaldo e Perondi ocorreu em março de 2024, quando o candidato do PL publicou uma foto ao lado de Divaldo em suas redes sociais. Mais tarde, em 6 de julho, os dois apareceram em um vídeo conjunto, reforçando a aproximação de Lara com a candidatura de Perondi à Prefeitura de Pelotas. Após ter sido derrotado em Bagé, Divaldo transferiu para Pelotas os caminhões de som usados na campanha de Roberta Mércio, candidata que o representava e perdeu para o deputado Luis Fernando Mainardi (PT), além de trazer também o staff que trabalhou para Mércio. Esse movimento reflete o empenho de Lara, declarado em transmissão ao vivo, em levar sua estratégia de campanha para apoiar Perondi, utilizando recursos e equipe de uma disputa anterior em Bagé.
Mais cedo, ainda também em março deste ano, Divaldo falou em transmissão na TV Câmara Bagé que estava indo a Pelotas enfrentar o candidato petista. Visto que Lara não pode concorrer a eleições, seus planos, de acordo com fala dele próprio, eram de moldar um novo nome para representá-lo nas eleições municipais de Pelotas. “Vou a Pelotas, [vereador Flavius] Dajulia, enfrentar o Marroni na eleição municipal. Diga pra ele que eu tô preparando um candidato com muita chance de levar a eleição de Pelotas. Ele veio fazer uma formação conosco aqui e nós vamos libertar Pelotas do PT e dessa centro-esquerda”, disse o prefeito cassado, em fala que endossa a ironização de Marroni no primeiro debate do segundo turno.
Quem é Divaldo Vieira Lara
Os irmãos Divaldo Lara e Luis Augusto Lara são acusados de abuso de poder político e econômico / Divulgação TP
A carreira do atual prefeito de Bagé é marcada por diversos casos de suspeita de corrupção no governo. Este é o segundo mandato do prefeito que agora encontra-se inelegível. Ele foi eleito pela primeira vez em 2017 e em 2020 conseguiu a reeleição. Atualmente, Divaldo responde a 12 processos na justiça, além de ter sido alvo de operações da Polícia Federal apenas neste ano. Ele é investigado por suspeita de esquema de rachadinha e caixa 2 em operação que realizou um mandado de busca e apreensão em sua propriedade no dia 13 de agosto deste ano.
De acordo com a Polícia Federal, desde 2017, servidores comissionados da Prefeitura de Bagé são obrigados a destinar parte de seus salários a uma organização criminosa. Esses recursos seriam utilizados em campanhas eleitorais sem a devida prestação de contas à Justiça Eleitoral. A PF aponta Divaldo como o possível líder desse esquema.
Além do prefeito, o presidente da Câmara de Vereadores de Bagé também foi alvo de uma operação que revelou um esquema de desvio de R$ 10 milhões dos cofres municipais, ocorrido desde 2017, quando Divaldo assumiu o mandato, e que continuou mesmo após a ação policial de 2023. Segundo a Polícia Federal, há indícios de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, entre outros crimes contra a Administração Pública.
Para os investigadores, Divaldo seria o responsável pela escolha dos contratados no município e pelo recebimento dos valores desviados. Sua esposa, Priscila, estaria envolvida na lavagem de dinheiro, realizando movimentações financeiras muito acima dos rendimentos legais do casal. A PF acrescenta que Priscila, como policial civil, teria acesso a informações privilegiadas.
Álvaro Mata é casado com Manuela Jacques Souza (PL), ex-candidata a vereadora em Bagé. De acordo com investigações da Polícia Federal, ela foi acusada de suposto envolvimento com uma facção criminosa ligada ao atentado eleitoral contra o prefeito eleito de Bagé, Luis Fernando Mainardi (PT). Em maio, Manuela foi presa em uma operação que investigava um esquema de "rachadinha" na prefeitura e na Câmara de Vereadores de Bagé. A PF conta que Manuela seria uma das responsáveis em recolher parte do salários dos servidores municipais.
A aproximação entre Marciano Perondi e Divaldo Vieira Lara levanta preocupações sobre os rumos que uma eventual administração de Perondi poderia tomar em Pelotas. Enquanto Perondi se apresenta como um candidato “antissistema” e defensor de uma nova forma de governar, sua aliança com uma figura política envolta em escândalos de corrupção e práticas questionáveis coloca em xeque a coerência desse discurso.Em coletiva de imprensa após a segunda operação, no dia 14 de agosto, Divaldo alegou ter sofrido "uma ação orquestrada por seus adversários políticos". Ele também alegou ser alvo de notícias falsas e relacionou as operações ao atual Governo Federal. "Essa é a terceira operação que sou alvo, em dois anos de governo do Lula. Eles, os meus adversários, me odeiam a ponto de espalhar falsas notícias, denunciarem falsas informações, porque eu tirei o PT do governo municipal de Bagé", disse.
Além disso, a defesa de Lara emitiu uma nota assinada pelos advogados Cristiano Gessinger Paul e José Henrique Salim Schmidt: "Não existem fatos novos que justifiquem o mandado de busca e apreensão cumprido hoje, ao contrário, trata-se de exaurimento da mesma investigação. O prolongamento indefinido da investigação é ilegal, desproporcional e sua abusividade será demonstrada em juízo."
Novos nomes
Com o avanço de Perondi para o segundo turno das eleições, a influência de Divaldo na campanha aumentou. Além de sua própria atuação, a campanha de Perondi também passou a contar com o advogado Álvaro Mata Lara, que já havia defendido Roberta Almeida Mércio (PL), candidata nas eleições de Bagé que representava os interesses de Divaldo. O nome de Álvaro consta em registros do Processo Judicial Eletrônico (PJe), sistema de tramitação de processos judiciais que objetiva atender às necessidades dos diversos segmentos do Poder Judiciário brasileiro.
Advogado de Lara tem nome ligado a vereadora suspeita de ligação com facção criminosa e presa por rachadinhas / Fonte: Site do PJe
Álvaro Mata é casado com Manuela Jacques Souza (PL), ex-candidata a vereadora em Bagé. De acordo com investigações da Polícia Federal, ela foi acusada de suposto envolvimento com uma facção criminosa ligada ao atentado eleitoral contra o prefeito eleito de Bagé, Luis Fernando Mainardi (PT). Em maio, Manuela foi presa em uma operação que investigava um esquema de "rachadinha" na prefeitura e na Câmara de Vereadores de Bagé. A PF conta que Manuela seria uma das responsáveis em recolher parte do salários dos servidores municipais.
A aproximação entre Marciano Perondi e Divaldo Vieira Lara levanta preocupações sobre os rumos que uma eventual administração de Perondi poderia tomar em Pelotas. Enquanto Perondi se apresenta como um candidato “antissistema” e defensor de uma nova forma de governar, sua aliança com uma figura política envolta em escândalos de corrupção e práticas questionáveis coloca em xeque a coerência desse discurso.
Texto de: Carlos Fraga/Brasil de Fato RS
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