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Em live, alunos do Israelita em Porto Alegre ofendem nordestinos
O Colégio Israelita de Porto Alegre publicou uma nota nesta sexta-feira (4) em que torna público seu “firme repúdio” às manifestações discriminatórias e preconceituosas “praticadas por alunos desta instituição”.
Em uma live realizada após a eleição de domingo (30), três alunos debocham da escolha do eleitorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e agridem verbalmente a população nordestina – num trecho, um dos estudantes chega a dizer que “todos os nordestinos deveriam tomar no cu”.
O vídeo, postado no TikTok, já foi apagado. Dois trechos de alguns minutos, porém, foram gravados e acabaram viralizando. Uma das protagonistas do vídeo, loira e de olhos azuis, desdenha quando recebe uma mensagem alertando sobre os riscos que corria devido às suas opiniões. “Tá, então, que gravem, não vai mudar nada na minha vida. Vai levar o quê, para um tribunal? O juiz que vai atender o caso é da minha família”, diz a estudante, às gargalhadas.
A mesma aluna também responde de forma ofensiva a uma mulher que a lembra da derrota de Bolsonaro. “Eu já aceitei [a derrota de Bolsonaro], não vai mudar nada na minha vida, sua pobre, sua vagabunda. E outra coisa: não vai reclamar depois que for demitida, tá bom? Não vem reclamar depois que meu pai te demitir, tá bom, fofinha?”, ofende a aluna.
Os estudantes ainda riem de crianças nordestinas beneficiadas por políticas públicas de abastecimento de água, atribuídas enganosamente ao presidente Jair Bolsonaro (PL), e debocham de quem usa transporte público, dizendo nem saber o que é um ônibus. “Não é boceta em espanhol?”, pergunta uma das alunas, igualmente às gargalhadas.
Também desdenham do auxílio emergencial de R$ 600, que garantiu alimento a muitas famílias durante a pandemia de covid-19. A outra aluna que participou da live diz que, no supermercado que frequenta, compra apenas “um sorvete Baccio di Late [marca italiana] e um rolo de papel higiênico de folha dupla” com o benefício. “Tá ligado, então? A gente faz uma festa assim e já deu 600 pila”, diz o adolescente do grupo. A amiga responde: “a gente limpa o cu com 600 reais”.
Repulsa e indignação
O vídeo, gravado durante evento do colégio, causou repulsa e indignação. “O discurso de ódio não será tolerado. Dentro da legislação e dos nossos regulamentos, serão aplicadas as penalidades cabíveis”, afirmou na nota o Colégio Israelita. Mas ressalvou que, mais que punir, o papel da escola é educar e formar seres humanos “capazes de colaborar para a evolução da sociedade”.
O texto, publicado nas redes sociais da escola, gerou uma onda de protestos por parte de mães e pais de alunos – a maioria exigindo a expulsão dos estudantes que aparecem no vídeo do colégio.
O Grêmio Estudantil Albert Einstein, do Colégio Israelita, também repudiou o vídeo. “A história do povo judeu é marcada pela luta contra a discriminação, sempre a favor da inclusão e abrangência de pensamentos sociais”, diz em nota.
Os alunos não tiveram as identidades reveladas e nem as séries que estão cursando. Procurada pela reportagem, a direção da escola informou que se pronunciaria apenas pela nota divulgada no início da tarde. Também disse que estão sendo analisadas as providências legais que podem ser adotadas.
Ataques a bolsistas no Farroupilha
Não foi o único caso de intolerância registrado em escolas particulares de Porto Alegre depois das eleições. No Colégio Farroupilha, frequentado pela elite econômica da cidade, alunas bolsistas da instituição foram hostilizadas por colegas depois de declararem voto em Lula. Em mensagens privadas, alunos chamam as bolsistas de “fedidas”, “nojentas”, “mocreias” e também as ofendem com palavrões.
As ofensas foram disparadas em um grupo de mensagens criado pelos alunos, sem vínculo com a escola. As alunas ofendidas, que são negras, registraram boletim de ocorrência.
O Colégio Farroupilha comentou o episódio com uma nota em que repudia “discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância”. A escola adverte também que não diferencia estudantes pagantes de bolsistas e informou que está contatando as famílias. “Houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da instituição”, informa a nota.
A escola, entretanto, não quis confirmar a suspensão de nove estudantes devido às mensagens ofensivas. “Reforçamos que entendemos a escola como um espaço que valoriza o diálogo e a escuta, além da pluralidade de saberes e pontos de vista. Estamos atentos ao cenário de acirramento político e seguimos atuantes para que o ambiente educativo priorize o bom relacionamento, a aprendizagem e a segurança”, diz a nota.
Racismo se acentuou com processo eleitoral
Coordenador do movimento estudantil Kizomba, que divulgou originalmente as denúncias de racismo, Vinícius Spengler diz que as ofensas a alunas bolsistas já acontecem “há algum tempo” na escola e que a diferenciação entre bolsistas e pagantes é histórica no Farroupilha. Contudo, destaca que o problema se acentuou com o processo eleitoral.
“Antes mesmo da eleição, já tinha alguns comportamentos dentro da escola, no recreio, durante as aulas mesmo, que os professores, na medida do possível, vinham contendo, mas a direção de alguma maneira estava se omitindo”, diz.
Vinícius avalia que o problema se acentuou quando a direção decidiu que bandeiras de partidos políticos não poderiam ser levadas para a escola, mas permitiu o uso de bandeiras do Brasil por alunos bolsonaristas. “Agora, no domingo de noite, que foi a situação que nós denunciamos, foi o auge dessas agressões, uma série de preconceitos, um assédio ferrado mesmo”, diz.
O Kizomba está organizando um ato a ser realizado na frente da escola. Vinícius diz ainda que o mandato da deputada Sofia Cavedon (PT) assumiu o compromisso de abrir um canal de diálogo com a direção da escola para tratar do tema e que irá acionar o Ministério Público.
Escrito por: Flávio Ilha com colaboração de Luís Gomes – Sul21
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