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Edição da Manhã: Impactos globais do “tarifaço” de Trump

Edição da Manhã: Impactos globais do “tarifaço” de Trump

O programa Edição da Manhã recebeu nesta sexta-feira, 4 de abril, o analista geopolítico e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Vitor Stuart de Pieri. Em entrevista à RádioCom Pelotas, De Pieri analisou os desdobramentos internacionais do chamado “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que elevou impostos de importação de produtos de diversos países.

Segundo o especialista, a medida representa uma ruptura com acordos internacionais e pode desencadear efeitos negativos não apenas para o comércio global, mas também para a economia dos próprios Estados Unidos.

Medida vai na contramão do comércio internacional

De Pieri avaliou que a iniciativa de Trump fere diretamente as diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC), favorecendo políticas protecionistas. “O tarifaço vai contra o que está estabelecido na OMC, que busca impedir o protecionismo e equilibrar o comércio internacional”, apontou.

Para o professor, o cenário atual reflete uma onda de nacionalismo que enfraquece o processo de globalização. “As organizações supranacionais estão sendo ignoradas por governos nacionalistas, o que traz instabilidade ao sistema econômico mundial.”

Efeitos nos EUA e na economia mundial

Vitor De Pieri alertou que, embora o objetivo de Trump seja proteger o mercado interno, os efeitos da medida podem ser contraproducentes. Ele prevê aumento da inflação, possível recessão e até escassez de produtos nos Estados Unidos. “Não é de um dia para o outro que se substitui produtos importados. A primeira consequência deve ser uma espiral inflacionária, e depois até a falta de produtos nas prateleiras”, avaliou.

O analista também destacou que países historicamente aliados dos EUA, como Canadá, México e membros da União Europeia, estão sendo atingidos igualmente, o que demonstra uma estratégia de isolamento por parte do governo norte-americano.

Impactos para o Brasil

Apesar de o Brasil ter sido relativamente poupado, com uma tarifa média de 10%, De Pieri ressalta que o país pode tirar proveito do cenário, especialmente pela sua política externa diversificada. “O Brasil tem déficit comercial com os EUA, o que fez com que não fosse alvo das tarifas mais altas. Além disso, mantém relações amplas com diversos blocos econômicos, o que é estratégico neste momento.”

O professor lembrou que a atuação internacional do Brasil, especialmente durante o governo Lula, tem priorizado uma política externa universalista, o que pode abrir novas possibilidades comerciais diante do fechamento do mercado norte-americano.

Guerra comercial com a China e acordos em pauta

Segundo De Pieri, o foco das tarifas mais altas — de até 30% — sobre produtos da Ásia evidencia um agravamento da guerra comercial com a China. Ele também apontou que o tarifaço pode acelerar a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia, que está travado há anos por pressões de setores agrícolas europeus.

“Com o fechamento do mercado americano, a União Europeia pode buscar novos parceiros, o que favorece o avanço do acordo com o Mercosul”, explicou. Ele destacou, no entanto, que a posição do governo argentino pode ser um entrave, dado o alinhamento do presidente Javier Milei aos interesses dos Estados Unidos.

Projeto de reciprocidade e resposta internacional

Por fim, o entrevistado comentou a aprovação do Projeto de Lei da Reciprocidade pelo Congresso Nacional, que aguarda sanção presidencial. A proposta prevê que o Brasil aplique as mesmas regras comerciais impostas por outros países. Para De Pieri, a medida segue a tradição diplomática brasileira e deve servir como exemplo: “O mundo deve responder na mesma moeda. A tendência é que outros países adotem medidas semelhantes como forma de retaliação aos EUA.”

De Pieri concluiu alertando para uma possível perda de popularidade de Donald Trump, caso os efeitos econômicos do tarifaço se agravem nos próximos meses.

Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.



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