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Contraponto: Cultura afrodiaspórica e segurança são pilares da Festa da Helô em Pelotas
A Festa da Helô se consolidou como um dos principais espaços de representatividade LGBTQIA+ e diversidade musical em Pelotas. Além de ser um evento marcado por encontros e celebração, a festa também funciona como um espaço de acolhimento e fortalecimento cultural. Um estudo conduzido por Lise Peres, cantora, compositora e estudante do Bacharelado em Música Popular da UFPel, investiga o impacto desse evento na cena cultural da cidade, analisando o perfil do público, a curadoria musical da DJ Helô e a construção de um ambiente seguro para seus frequentadores.
No programa Contraponto desta quinta-feira (6), Lise compartilhou detalhes sobre sua pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O estudo busca compreender como a DJ Helô construiu sua identidade musical, de que forma a festa contribui para a representatividade na cidade e qual é a relação entre os frequentadores do evento e sua proposta artística e social.
A escolha do tema
A definição do tema para a pesquisa foi um processo que envolveu interesses pessoais e acadêmicos de Lise Peres. Desde o início, a artista sabia que gostaria de abordar questões ligadas a gênero e sexualidade dentro da música popular. Suas primeiras ideias envolviam trabalhar com grandes nomes da MPB, como Gal Costa e Angela Ro Ro, explorando suas trajetórias e influências no cenário musical.
No entanto, a proximidade com a Festa da Helô e a observação da relevância desse evento na cena alternativa de Pelotas fizeram com que Lise redirecionasse sua pesquisa. “A partir da festa de réveillon deste ano, percebi que havia um material riquíssimo para ser trabalhado”, afirmou. A DJ Helô não apenas construiu um espaço de celebração musical, mas também consolidou um evento que representa diversidade, identidade cultural e pertencimento para muitas pessoas.
A identidade musical da DJ Helô
Um dos focos centrais da pesquisa de Lise é entender como a DJ Helô desenvolveu sua identidade musical ao longo dos anos. A seleção de músicas que compõem as festas é marcada por uma forte presença de artistas negros e canções que abordam temáticas raciais e de resistência. Essa escolha não é aleatória, mas sim uma curadoria que reflete a trajetória da DJ e os valores que ela busca transmitir através da música.
Durante a pesquisa, Lise documentou as músicas tocadas nas festas para identificar padrões e entender as influências da DJ. Segundo a pesquisadora, a construção da identidade musical da Helô passa não apenas pela escolha dos artistas, mas também pela forma como as músicas são apresentadas e conectadas ao longo do evento. Esse aspecto reforça o papel da DJ como uma curadora de experiências sonoras e culturais.
Perfil do público e sensação de segurança
A Festa da Helô não é apenas um espaço de música e celebração, mas também um ambiente de acolhimento para diferentes grupos sociais. Para entender melhor o perfil dos frequentadores, Lise elaborou um formulário online coletando dados sobre identidade de gênero, sexualidade, idade e tempo de participação nas festas. O levantamento revelou que a maioria do público é LGBTQIA+, com idades que variam entre 25 e 65 anos.
Outro dado importante identificado na pesquisa é a sensação de segurança no evento. Quase 100% dos entrevistados afirmaram se sentir seguros durante a festa, um fator que Helô sempre priorizou na organização do evento. “A Helô sempre fez questão de criar um espaço seguro para todos, e os relatos do público confirmam isso”, destacou Lise. Esse ambiente de acolhimento contribui para que a festa seja um ponto de encontro e pertencimento para muitas pessoas.
A relação entre Helô e a RádioCom
Além das festas, a DJ Helô também tem um papel significativo na RádioCom, onde conduz programas que discutem temas como gênero, negritude e música popular. A presença dela na rádio funciona como uma extensão do seu trabalho como DJ, levando debates e reflexões que se conectam diretamente com o público que frequenta suas festas.
Lise destaca que a relação entre Helô e seus ouvintes na rádio é intensa e participativa. Muitos dos frequentadores da Festa da Helô também acompanham seu programa, interagem com as discussões e fortalecem a comunidade que se forma ao redor do seu trabalho. “O engajamento do público na rádio reforça ainda mais a influência da Helô na cena cultural de Pelotas”, explicou a pesquisadora.
Oralitura e transmissão de conhecimento
Um dos conceitos centrais na pesquisa de Lise é a "oralitura", desenvolvida pela filósofa Leda Maria Martins. Esse conceito se refere à transmissão de conhecimentos ancestrais de forma oral e performática, especialmente dentro das culturas afrodescendentes. A DJ Helô, através de suas festas, desempenha esse papel ao trazer para o público músicas que carregam histórias, memórias e resistência.
A curadoria musical da Helô vai além da escolha de faixas dançantes. Seu trabalho inclui a difusão de gêneros musicais afrodiaspóricos, como o coco, baião e ijexá, que muitas vezes não têm espaço nos circuitos comerciais. “O que a Helô faz é muito mais do que tocar música. Ela está transmitindo conhecimento cultural e musical de forma viva e contínua”, explicou Lise.
Participação na pesquisa
A pesquisa de Lise segue em andamento, e pessoas que frequentam a Festa da Helô podem contribuir respondendo ao formulário online. A coleta de dados será encerrada em breve para que os resultados possam ser analisados e incorporados ao estudo final. Interessados podem acessar o formulário nesse link.
*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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