A CUFA (Central Única das Favelas), em parceria com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Secretaria de Desenvolvimento Social, está conduzindo em Pelotas o Diagnóstico de Inclusão Socioprodutiva. A ação visa identificar as necessidades de famílias inscritas no CadÚnico para oferecer formação profissional e facilitar a inclusão produtiva.

Em entrevista ao programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, nesta quarta-feira (2), a coordenadora da CUFA Z3 Pelotas, Giovana Bittencourt, ao lado de Priscila Bittencourt e Lucas Born, explicou os objetivos da pesquisa e destacou os desafios enfrentados na coleta de dados. Os entrevistados também detalharam as ações desenvolvidas na Colônia Z3, como a oferta de cursos profissionalizantes e a futura inauguração de uma Cozinha Comunitária.

Diagnóstico

O Diagnóstico de Inclusão Socioprodutiva está sendo aplicado em 131 municípios do estado. Em Pelotas, a meta é realizar 235 entrevistas com famílias de diferentes bairros, especialmente em regiões periféricas como a Colônia Z3. O levantamento envolve questionários sobre grau de instrução, interesse em cursos, condições socioeconômicas e experiências recentes, como os efeitos das enchentes.

“A pesquisa permite entender a realidade das pessoas: se querem voltar a estudar, a trabalhar, o que precisam. Isso alimenta dados que serão usados para formular políticas públicas mais eficazes”, explicou Giovana Bittencourt.

As informações também ajudarão a moldar novos cursos no programa Emancipa RS, adaptando as formações à realidade local.

Cursos gratuitos

Os cursos oferecidos pelo Emancipa RS abrangem sete áreas: gastronomia, manutenção predial, barbearia, informática, manicure, eletricista e auxiliar de administração. Eles são gratuitos e voltados à população em situação de vulnerabilidade.

Durante a formação, os participantes recebem auxílio-transporte. Após a conclusão, cada aluno recebe R$ 1.500 em equipamentos relacionados à área escolhida, como kits de barbearia, ferramentas de obra ou utensílios de cozinha. O objetivo é permitir que os alunos iniciem de imediato suas atividades como profissionais autônomos.

As inscrições seguem até o dia 24 de abril, pelo site emancipafamiliagaucha.org.

Empreendedores locais

Além de mapear o interesse em cursos, o diagnóstico também identifica pessoas que já possuem pequenos negócios, como ambulantes ou trabalhadores autônomos. A partir desses dados, a CUFA pretende encaminhar essas pessoas para consultorias e formações em gestão e finanças.

“Às vezes a pessoa tem uma lojinha, mas não sabe administrar. Então, após o curso, oferecemos consultoria para que o negócio se torne uma fonte de renda sólida”, comentou Priscila Bittencourt. A proposta é transformar iniciativas emergenciais em empreendimentos sustentáveis.

Desconfiança e desafios

Apesar da importância do projeto, a adesão da população ainda é baixa. Segundo os entrevistados, existe receio por parte das famílias, que temem perder benefícios sociais ao responder às perguntas. Muitos confundem a ação com o anunciado "pente-fino" do CadÚnico.

“Já bateram a porta na nossa cara, disseram que era golpe, até ameaçaram chamar a polícia. Isso prejudica muito o andamento da pesquisa”, relatou Lucas Born.

Para contornar a desconfiança, a CUFA tem usado redes sociais, contato com os CRAS e apoio da prefeitura. Ainda assim, dos 400 nomes indicados para visita, apenas 50 entrevistas haviam sido concluídas até o início de abril.

Ações

Além da pesquisa estadual, a CUFA Z3 desenvolve ações permanentes na comunidade. Um curso recente de alongamento de unhas teve 44 participantes, quase o dobro do previsto. Novos cursos estão previstos, como robótica para crianças e atividades específicas para mães de crianças com autismo ou TDAH.

Em breve será inaugurada uma Cozinha Comunitária, viabilizada em parceria com a CEEE Equatorial. O espaço oferecerá alimentação gratuita para crianças e servirá de base para cursos de culinária. Um espaço infantil permitirá que mães possam estudar com tranquilidade.

Colônia Z3

Durante a entrevista, Giovana Bittencourt reforçou que a Colônia Z3 é um território muitas vezes esquecido pela cidade, apesar da sua relevância cultural e econômica. Ela destacou o papel central das mulheres da comunidade, especialmente diante das crises que afetam o setor pesqueiro.

“Quando a pesca falha, são as mulheres que mantêm a casa. Trabalham com filé de peixe, camarão, fazem feira, sustentam suas famílias. A CUFA devolveu a autoestima a essas mulheres. Criou possibilidades onde antes havia apenas resistência”, afirmou.

Giovana também lembrou os 63 dias em que a Z3 ficou debaixo d'água após as enchentes, e o apoio contínuo da CUFA nesse período, com cestas básicas, cartão alimentação e acolhimento direto às famílias.

Nova sede

A CUFA Z3 atualmente funciona em um espaço limitado, mas já articula com vereadores e secretarias municipais a construção de uma nova sede. A proposta é ampliar a oferta de cursos e atividades, como ginástica, balé e reforço escolar. A ideia é criar uma estrutura que atenda não apenas a Z3, mas outras periferias de Pelotas.

“Nosso foco é a Z3 neste momento, mas sabemos que há outras comunidades carentes. Temos planos de expansão, e nosso coordenador estadual, Júnior Torres, está atento a isso. Mas precisamos de parcerias e apoio político, independente de partido. Nosso compromisso é com a comunidade”, disse Giovana.

Mobilização e convite

A CUFA reforça o chamado para que moradores de Pelotas recebam os visitadores, participem da pesquisa e se inscrevam nos cursos. A ação não se limita à Z3: bairros como Fragata, Três Vendas e Areal também estão sendo visitados.

“Se a comunidade não fala, não conseguimos ter um diagnóstico preciso. Depois fica difícil cobrar políticas públicas. Agora é a hora de dizer o que falta”, enfatizou Lucas Born.

Serviço

Diagnóstico de Inclusão Socioprodutiva

Coleta de dados em Pelotas até 24 de abril

Realizado em diversos bairros, com foco em famílias do CadÚnico

Cursos gratuitos do Emancipa RS

Inscrições até 24 de abril

Site: emancipafamiliagaucha.org

Auxílio transporte durante o curso

R$ 1.500 em equipamentos ao término da formação

Contato com a CUFA Z3

Instagram e Facebook: Cufa Z3 Pelotas

Texto de: Redação

Imagem: Ridley Madrid