Áudios obtidos pela PF mostram militares dispostos a uma ‘guerra civil’ para manter Bolsonaro no poder
Com Maduro, Lula critica sanções dos EUA contra Venezuela e defende expansão do Brics
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta segunda-feira (29) o mandatário da Venezuela, Nicolás Maduro, em Brasília. Ambos se reuniram de forma privada e, em seguida, com ministros dos dois governos na primeira visita de um presidente venezuelano ao Brasil desde 2015.
Após a reunião, Lula classificou o encontro como um "momento histórico" e afirmou que os países buscam uma "integração plena" em diversas áreas. Não houve, no entanto, assinatura de acordos bilaterais até o fechamento desta reportagem.
"Eu espero que a relação entre Brasil e Venezuela não seja apenas uma relação comercial, ela pode ser política, cultural, econômica, de ciência e tecnologia, entre as nossas juventudes, entre as nossas universidades, entre nossas Forças Armadas, trabalhando juntas na fronteira para combater o narcotráfico em toda a fronteira", afirmou o petista.
O presidente brasileiro ainda criticou o bloqueio imposto pelos EUA contra a Venezuela e disse que é inexplicável que "um país tenha 900 sanções só porque um outro país não gosta dele".
"Eu sempre acho que um bloqueio é pior do que uma guerra. Porque uma guerra mata soldados, mas um bloqueio mata crianças, mata pessoas que não tem nada a ver com que está em jogo", afirmou.
Maduro também fez críticas à política externa dos EUA em relação à Venezuela e disse que "o mundo que está nascendo não deve estar marcado por sanções e pela pressão do dólar".
"Ele deve ser um mundo marcado pela liberdade. Eles não falam de liberdade? Onde está a liberdade financeira e monetária quando um país é proibido de fazer transações financeiras no mundo? Quando impedem que barcos carregando insumos cheguem à Venezuela?", questionou o presidente venezuelano.
Economia, energia e enfrentamento ao dólar
Os presidentes também mencionaram a reativação de convênios econômicos e energéticos. Maduro afirmou que a Venezuela está pronta para reativar o fornecimento de energia elétrica a Roraima, único estado brasileiro que não está conectado com o sistema nacional de energia.
"Temos 120 Mega Watts disponíveis, estamos prontos e precisamos de um investimento básico de US$ 4 ou US$ 5 milhões para reconstruir as linhas de transmissão. Se conseguirmos esse investimento, estaríamos muito prontos para reconectar [a hidrelétrica de] Guri a Roraima, esperamos a cooperação e o investimento de empresários brasileiros", disse o presidente da Venezuela.
Maduro voltou a mencionar o setor privado do Brasil ao falar da crise econômica no país. Entre 2014 e 2022, estima-se que a Venezuela tenha perdido cerca de 75% do PIB após entrar em recessão e sofrer as consequências das sanções impostas por Washington contra sua indústria petroleira.
"A resistência nos levou a estabelecer uma economia de guerra, um modelo de recuperação. No ano passado, tivemos um crescimento de 15% e neste anos há previsões do FMI e de vários organismos que a Venezuela vai crescer 5%. Estamos preparados para retomar as relações virtuosas com os investidores e empresários brasileiros. A Venezuela está de portas abertas, com todas as garantias, para que voltemos aos tempos de investimentos brasileiros", disse.
Lula, por sua vez, ao falar em integração econômica, aproveitou para criticar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontado como responsável pela diminuição do fluxo comercial entre Brasil e Venezuela.
Durante os primeiros mandatos de Lula, o saldo comercial entre os dois países atingiu recordes, como por exemplo o registrado em 2008, quando as exportações brasileiras para o país vizinho ultrapassaram os US$ 5 bilhões. Entre 2017 e 2022, a balança comercial entre Brasil e Venezuela chegou aos níveis mais baixos dos últimos 20 anos, menores até do que as cifras do último mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Isso é ruim para a Venezuela e é ruim para o Brasil, porque o comércio extraordinário é aquele que funciona em via de duas mãos", disse Lula.
Os presidentes também foram questionados sobre a possibilidade do ingresso da Venezuela nos Brics. Ambos disseram que o assunto não foi tratado na reunião, mas Maduro expressou que o país tem intenções de solicitar entrada e Lula disse que, pessoalmente, é favorável.
"Será a primeira reunião oficial dos Brics que eu vou participar depois de oito anos e existem várias propostas de outros países que querem entrar. Nós vamos discutir, porque não depende só da vontade do Brasil, então se houver um pedido oficial, nós vamos discutir. Se você perguntar minha vontade, eu digo: eu sou favorável", disse.
Maduro, por sua vez, classificou o Brics como um "elemento avançado" na construção do que chamou de "mundo novo, multipolar" e destacou, principalmente, as possibilidades de articulações financeiras dentro do bloco.
0 comentários
Adicionar Comentário