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Com avanço da ômicron, especialistas alertam: saúde está perto do colapso
Mantido o ritmo de contaminação, a médica Ludhmilla Hajjar prevê o colapso dos sistemas de saúde do país em uma semana. Miguel Nicolelis e Átila Iamarino também cobram medidas de contenção do vírus
A variante ômicron, muito mais transmissível que todas as cepas anteriores do novo coronavírus, está causando um verdadeiro tsunami de infecções pela covid-19. Nesse sentido, especialistas alertam para o risco de colapso nos sistemas de saúdes pelo país. “Pelo ritmo que estamos vendo, em uma semana os sistemas de saúde deverão entrar em colapso no Brasil”, afirmou a médica intensivista e cardiologista Ludhmila Hajjar, em entrevista ao jornal O Globo. “O número de infecções aumentará mais ainda nos ambulatórios e provavelmente faltarão mais profissionais da saúde no combate”, acrescentou.
Por sua vez, o neurocientista Miguel Nicolelis afirmou que a ômicron se espalha no Brasil “como fogo em arbusto velho”. Para ele, o país já deve contar com “centenas de milhares de casos por dia”. Dois fatores contribuem para que os números oficiais não representem a realidade da situação. Primeiro, o fracasso no sistema de testagem. Na proporção de testes por milhão de habitantes, o Brasil ocupa a 125ª posição no mundo. Além disso, outro fator é o apagão de dados que afetou os sistemas do Ministério da Saúde no último mês.
Momento “mais crítico”
O alerta de Nicolelis foi dado por em um áudio enviado aos “companheiros” do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). O especialista recomenda, portanto, o reforço das medidas de proteção. A principal delas é a vacinação. “Se vacinem. Vacinem a todos, adultos e crianças. Porque esse pode ser o momento mais crítico da pandemia onde nós vamos ver milhões de pessoas sendo infectadas num período muito curto de tempo no Brasil”.
A segunda recomendação mais importante, segundo Nicolelis, é evitar “toda a sorte de aglomerações”. Pelo Twitter, medidas insuficientes adotadas por governadores, como limitar em centenas ou alguns milhares, a depender de cada caso, o número de pessoas em eventos públicos e privados. “Governadores precisam agir de forma decisiva, sem medo de contrariar interesses econômicos. Temos que voltar as restrições impostas na primeira onda”, clamou. O uso de máscaras e a lavagem das mãos também entram nesse conjunto de cuidados.
Menos otimista, Nicolelis disse que é “balela” chamar a ômicron de uma variante “leve”. Assim, também disse não acreditar que a nova variante aponte para o fim da pandemia. “Ninguém pode dizer qual vai ser o futuro da pandemia nesse instante.”
Tsunami
Diante do tsunami causado pela ômicron, o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino denunciou ainda a falta de vacinação em muitas regiões do país. O desigualdade vacinal no país também foi apontada recentemente como um problema por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além disso, Átila também ressaltou que a contaminação em massa da população, além do aumento nas internações, vai acabar acarretando a paralisação de muitas atividades. “Ter meio país pegando o vírus nos próximos dois, três meses, tira todo mundo do trabalho”.
Países como Estados Unidos, Alemanha e Argentina registraram recordes de contaminação nesta quarta-feira (12). No Brasil, os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro também computaram os maiores números de casos, nas últimas 24 horas, desde o início da pandemia. Um dia antes, foram registradas 3,28 milhões de novos casos em todo o mundo, de acordo com a plataforma Our World in Data. Alguns indícios apontam que a nova variante levaria a casos menos graves da doença. Isso porque a ômicron se reproduz mais nas vias respiratórias superiores do que nos pulmões.
Em Campo Grande, capital sul-mato-grossense, 93% dos leitos de UTIs da rede pública voltados para pacientes com covid-19 já estão ocupados. Já em Pernambuco, as solicitações por leitos de UTI subiram mais de 82% em 15 dias. Em São Paulo, 1.727 pacientes estão em tratamento intensivo contra a doença. Em uma semana, foram 895 novos registros, crescimento de 91%.
Faltam médicos
A ômicron tem infectado também médicos e enfermeiros, que ficam afastados da linha de frente. “Só na minha área do Hospital das Clínicas, de São Paulo, por exemplo, temos 56 profissionais afastados”, relatou Ludhmila Hajjar. Isso porque a maioria dos médicos e enfermeiros foi imunizada com duas doses da CoronaVac que, apesar de ser uma vacina “importantíssima”, segundo a médica, não “protege como as outras em relação a novas variantes”.
Por outro lado, ela acredita que o momento atual possa representar o “início do fim” da pandemia. “Temos pela primeira vez a junção de dois fatores: uma variante altamente prevalente infectando muita gente imunizada. Isso faz com que um número alto de pessoas se infecte com a forma branda da doença, o que é bom para a imunização. Não podemos, no entanto, baixar a guarda com a vacinação”, disse ela.
O principal fator que tem contribuído para a menor letalidade é o avanço da vacinação. Ainda assim, dada a sua altíssima capacidade de contaminação, a ômicron acarreta sobrecarga considerada desafiadora nos sistemas de saúde de todo o mundo.
Por Tiago Pereira, da RBA
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