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Centenário de Paulo Freire, o mestre de todos nós educadores (por Luciane Carminatti e Juliano Giassi Goularti)
Se houve um intelectual que contribuiu mais decisivamente para compreendermos o significado da educação, não temos dúvidas em afirmar que foi Paulo Freire. Ele não ofereceu apenas explicações educacionais para o homem se livrar dos grilhões da escuridão. Mais do que isto, situou a educação no contexto da práxis, analisando a sociedade e sua política, e oferecendo soluções para os grandes problemas da educação, não apenas brasileira, mas latino-americano e quiçá mundial.
Para realizar esta tarefa tão ambiciosa da educação como prática da liberdade, afinal, o Brasil vivia um período de ditadura militar, Paulo Freire usou do método de alfabetização popular conectando o sujeito com as experiências vividas. No método do movimento da dialética, ele foi rigoroso, e na prática da crítica, contundente, mesmo em tempos ásperos que levaram a sua prisão e depois exílio. Isto não o impediu de encarar com paixão seu objeto de estudo, que foi também um projeto de liberdade e emancipação do homem: a educação da pedagogia do oprimido.
Estando entre os principais educadores já existentes, Paulo Freire é um dos mais amplamente citados e também um dos mais raramente lidos com a devida atenção. Ao lado de Marx, certamente é, de igual modo, um dos mais incompreendidos, principalmente por seus críticos de redes sociais. Um mito cerca seu legado: de que era um educador comunista. Na verdade, ele era um socialista que acreditava na participação popular e na transformação do mundo por aqueles que são desprovidos do seu direito de ser. Por isso se empenhou na alfabetização de jovens e adultos enquanto um direito do homem de ser cidadão. Este foi seu compromisso histórico, ético e político!
Exilado não apenas por suas ideias, mas por sua práxis revolucionária, na Pedagogia do Oprimido, assim como a Pedagogia da Esperança e a Pedagogia da Autonomia, utilizou o método de alfabetizar e conscientizar jovens e adultos como prática da liberdade e do direito do homem se tornar cidadão do mundo. Esta foi sua paixão, tornando sua obra e sua vida cheia de energia e de vontade de transformação da educação brasileira. A paixão otimista que alimentava a ação o levou ao exílio, mas sem perder a capacidade de influenciar diretamente os destinos dos educadores brasileiros. O retorno do exílio e a participação como Secretário de Educação do governo de Luiza Erundina, em São Paulo, permitiu-lhe problematizar a educação e retomar a concepção crítica da realidade, tão obscura pelos tempos ásperos da ditadura civil-militar.
A paixão de Paulo Freire não foi somente o desenvolvimento da educação, mas também a democracia. Paixão alimentada pela crença de que o desenvolvimento estava ao alcance dos brasileiros no momento histórico em que o país apresentava elevada taxa de analfabetismo, nos anos 1960. A ideia é simples e poderosa. Só essa paixão explica a força de seu pensamento. Sua esperança foi grande com o desenvolvimento da política educacional dos oprimidos, mas a desilusão e a frustração com os rumos da política educacional do país enquanto “depósito de conteúdo” foram maiores ainda.
Pensando sempre de forma independente e crítica, sua capacidade política de inferência e de dedução é poderosa e ele parte sempre da observação da realidade empírica, pois como diz Frei Betto; “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”. Desta forma, evita partir de pressupostos gerais e hipóteses abstratas de deduzir a realidade e seu movimento histórico. Procura a partir da realidade e do seu movimento histórico e político, inferir a teoria através da práxis revolucionária.
Mesmo assim, ele não deixa de crer na utopia como um movimento dialético de transformação das estruturas sociais, impulsionado pela esperança de que o homem oprimido seja um sujeito histórico do processo, ainda mais nos anos 1960, com a exclusão dos analfabetos do direito ao voto, e que representa a ampla maioria das classes populares. Seu estilo de ação era baseado em uma pedagogia que buscou eliminar pela raiz as relações autoritárias de exclusão das massas populares do direito de ser cidadão.
Contudo, como educador dos oprimidos, Paulo Freire é tudo isso e muito mais do que isto. Sua luta pela educação popular, compreensão das estruturas sociais e superação do atraso estrutural do país – em suas múltiplas facetas – foi realizada com uma intensidade e uma determinação que só a paixão libertadora e o método pedagógico humanista explicam.
Luciane Carminatti é professora, deputada estadual e presidenta da Comissão de Educação da ALESC
Juliano Giassi Goularti é doutor pelo Instituto de Economia da UNICAMP e pesquisador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Fonte- pt.org.br
Edição NPJ
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