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Álbum Canções para Tempos de Cólera marca musicalidade e resistência do grupo Unamérica
O Grupo Unamérica lança o novo álbum Canções para Tempos de Cólera com show no Ecarta Musical no próximo sábado, 22 de janeiro, às 18h. O grupo completa 38 anos e traz esse novo trabalho com letras comprometidas com causas sociais e poéticas para enfrentar os tempos atuais.
O álbum estará disponível nas plataformas digitais com 12 músicas antigas e novas e arranjos que contam também com vários instrumentos de origem andina, como charango, quena e zampoña.
O duo formado por Dão Real e Zé Martins terá a participação especial de Vinícius Braun (gaita e violão) no show, o qual tem entrada franca e será transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da Fundação Ecarta.
A apresentação presencial tem capacidade para até 20 pessoas. É necessário apresentar o passaporte vacinal. As senhas serão entregues a partir das 17h.
No sábado também será lançado nas redes sociais do grupo o novo clipe, da música Gracias Pachamama, de Zé Martins, produzido e dirigido pelos jornalistas Marcos Corbari e Katia Marko.
Poéticas para inspirar tempos de paz
O músico e compositor Dão Real conta que o projeto surgiu em 2019 numa leitura musical daquele momento do país. “Muitos acham que o nome Canções para Tempos de Cólera tem relação com a pandemia, mas surgiu do clima de culto ao ódio e à intolerância, o negacionismo e os comportamentos fascistas que se instalaram”, relata.
O primeiro show com essa inspiração foi realizado no Café Fon Fon, em Porto Alegre, com um repertório de canções de lutas do passado e do presente. A ideia se consolidou e o Grupo lançou um financiamento coletivo e dois EPs no segundo semestre de 2021, e concretizou o projeto completo que será apresentado no palco do Ecarta Musical e lançamento em streaming.
“O apoio foi e continua sendo muito importante. Não só financeiro, mas as mensagens de reconhecimento estimulam a fazer novas canções e disponibilizar ao público”, registra o multi-instrumentista, compositor e cantor Zé Martins.
Sonoridades continentais
“Esse trabalho consolida uma proposta e um estilo musical. Solidifica uma ideia de composições e arranjos e reafirma a miscigenação de ritmos e instrumentos sul-americanos, com a luta de trabalhadores do campo e da cidade. Defende os direitos democráticos, a cultura local e o respeito a vida, afirmando que um mundo melhor é possível”, completa Martins.
O show traz canções como a versão em português de El Pueblo Unido Jamás será Vencido, dos chilenos Sérgio Ortega e grupo Quilapayun. Apresenta músicas como Festa da Colheita, homenagem ao universo dos agricultores familiares, para celebrar a colheita, a partilha da terra e a mesa farta em tempos de aumento da fome. Em Gracias Pachamama com ritmo andino, é abordada a espiritual e sensível relação com a mãe-terra e a necessidade de defender o meio ambiente e a paz entre os povos.
Únicos no gênero
Com um estilo particular, as composições do Unamérica sempre foram influenciadas pelos vários momentos históricos e políticos da América Latina. Seu trabalho representa um catalisador de experiências que vêm dos festivais nativistas, somados com a música gaúcha e aspectos culturais da América Latina e do Brasil urbano e rural.
“O grupo Unamérica é o principal representante gaúcho do movimento de aproximação e unidade com os irmãos latino-americanos. Outros grupos vieram, mas 38 anos depois, é o único sobrevivente daqueles dias em que se pregava e acreditava na unidade latino-americana. Talvez mais no que nunca, essa unidade se faz indispensável”, analisa o crítico musical Juarez Fonseca.
Musicalidade e resistência
“O duo mantém seus princípios sem negociar. Acreditam na arte como ferramenta de construção e transformação”, define o compositor Pedro Munhoz. Para Raul Ellwanger, com apenas dois integrantes, o Unamérica realiza uma música plena, variada, ampla, cheia de matizes e sabores, onde brilha a execução dos instrumentos de diferentes etnias e um trabalho vocal bem concebido e realizado”.
Raul, Munhoz e o Unamérica produziram o CD Pássaro Poeta, lançado em 2017, sobre poemas do cubano Tony Guerrero. “Mais ainda esse trabalho nos uniu neste já longo sendeiro de americanidades”, resume Ellwanger.
Em quase quatro décadas de existência, o grupo transformou-se em uma referência com uma musicalidade original e universal que transporta pela história da música no Rio Grande do Sul para lugares e épocas de todo o continente. Se expressa por uma variedade de instrumentos como as primitivas flautas de taquara e de argila, a viola caipira, charango, rabeca, acordeon, o quatro venezuelano, o triângulo e o bombo leguero.
Surgem ritmos como chamamés e chacareiras argentinas, cuecas bolivianas, huaynos peruanos, candombes uruguaios, milongas pampeanas, xotes e baiões do nordeste brasileiro, bois, zambas e o canto do homem do Interior.
“Quando surgiu o Unamérica, nos anos 1980, achei muito legal a ideia de um duo trazendo a música do Uruguai, Argentina, Peru e os instrumentos desses países. Me chamou a atenção o engajamento político enraizado numa canção popular, tradicional, brasileira e mundial que defende as causas sociais. Eles são únicos”, define o jornalista e crítico musical Gilmar Eitelwein.
Edição: Extra Classe
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